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16 de abril de 2010

Valor Econômico: Tancredo 25 anos depois é o fiel da balança contra os equivocos do PT, tão bem lembrados por Aécio Neves

Apoio a Tancredo volta à tona na campanha

Memória: Nos 25 anos da morte do fundador da Nova República, PSDB explora boicote petista ao Colégio Eleitoral

Arquivo/Fundação Presidente Tancredo Neves


João Batista
dos Mares
Guia, Lula,
Tancredo e
Airton Soares
em encontro
durante as
negociações
que marcaram
a transição
para a Nova
República
em 1984
Vinte e cinco
anos após sua morte, o presidente Tancredo Neves volta ao primeiro plano da sucessão presidencial. Após as flores em seu túmulo depositadas pela presidenciável petista Dilma Rousseff, o PSDB reagiu. O primeiro contra-ataque veio no encontro que lançou o ex-governador José Serra como pré-candidato tucano, no dia 11. Na ocasião, o ex-governador Aécio Neves lembrou que o PT negou voto a Tancredo na eleição indireta de 1985. Aécio e seu sucessor, Antonio Anastasia, começam a pré-campanha em Belo Horizonte com Serra. Os três devem viajar em seguida ao Rio, para exposição e lançamento de dois livros em homenagem ao ex-presidente. destacou a data como a da retomada do Estado de direito democrático. Na segunda-feira.
A busca da associação com Tancredo não foi associada a uma revisão petista sobre o boicote ao Colégio Eleitoral que o elegeu presidente. Mais do que rejeição a Tancredo, o PT insistia na tese da ilegitimidade insanável do Colégio Eleitoral. A oposição ao mineiro se fazia em terreno relativamente moderado: em 1981, quando deputado, Tancredo apareceu de surpresa na reunião do diretório estadual do partido. Perplexos, os petistas o convidaram para compor a mesa e lhe deram a palavra. O então deputado foi ouvido em silêncio e retirou-se rapidamente.

Um ano antes, sua neta, Andrea Neves Cunha, havia sido uma das fundadoras do PT fluminense. Em 1983, o PT propôs instalar CPI sobre o Credireal, um dos três bancos públicos que o governo mineiro controlava na ocasião. Tancredo chamou o único deputado estadual petista, João Batista dos Mares Guia, no Palácio das Mangabeiras e procurou convencê-lo que a CPI poderia enfraquecer o sistema de bancos públicos e favorecer a privatização. O petista não cedeu e o governador manobrou então para que a CPI fosse controlada pelo PMDB e neutralizada.

Tancredo e o PT trabalharam juntos na campanha das diretas, mas ainda na década de 90 o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou um juízo severo sobre Tancredo, conforme deixa claro o livro “História indiscreta da ditadura e da abertura”, de Ronaldo Costa Couto, que traz um depoimento de Lula dado em 1997.

“Nas diretas, tivemos um problema muito sério. É que Tancredo trabalhou o tempo inteiro contra elas. O Fernando Henrique Cardoso, na minha opinião era um dos mentores disso também”. Lula disse que Tancredo durante a mobilização popular já manobrava pelo Colégio Eleitoral. “Ele sabia que se tivesse eleições diretas naquele instante o presidente seria o Ulysses e não ele. O homem que dentro do PMDB tinha cacife pra se candidatar era Ulysses”. Lula relembra que, logo após a derrota diretas, o então senador Fernando Henrique fez um pronunciamento propondo a troca do lema de “diretas já” para “mudanças já”.

Relata em seguida suposta cena de mágoa de Ulysses em relação a Tancredo: “Quando terminou a campanha das diretas (…) fui na casa do Ulysses. O Ulysses estava deitado, eu entrei no quarto para acordar ele. Eu pensei que ele estava morto. Estava deitado com a barriga para cima e as mãos juntas. ´Doutor Ulysses´, ´Doutor Ulysses´. Aí ele acordou. Fiz um apelo para gente fazer um outro comício em Belo Horizonte pelas diretas já. Aí o Ulysses sentou do meu lado e falou assim. ´Lula, estou muito contrariado. E possivelmente eu esteja com a mesma revolta que você está. Sei quando sou derrotado. Tancredo me derrotou. Enquanto eu acreditava que a gente ia conquistar as diretas e fazer eleições, o Tancredo acreditava que, pelo Colégio Eleitoral, seria presidente da República”.

Ulysses morreu em 1992. Não há registro de críticas públicas suas a Tancredo. Costa Couto, que foi ministro do Interior escolhido por Tancredo, discorda da versão de Lula. ” Tudo indica que Tancredo não descartaria disputar eleições diretas, até porque havia uma divisão em São Paulo entre [Franco] Montoro e Ulysses. Ele se sentia preparado e sabia que aquela seria sua última chance”, comentou. Segundo o ex-ministro e historiador, “Tancredo apenas transpôs a mobilização das diretas para o Colégio Eleitoral, porque de modo realista sempre soube que a aprovação da emenda era praticamente impossível”, comentou.

A decisão de expulsar os deputados Airton Soares, Bete Mendes e José Eudes, que desobedeceram a cúpula petista, ainda é vista como momento definidor da sigla até mesmo por ex-integrantes do partido, como João Batista dos Mares Guia, ex-companheiro de luta armada de Dilma e do ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, que participou da fundação tanto do PT em 1980 quanto do PSDB em 1988. Irmão do ex-ministro das Relações Institucionais do governo Lula, Walfrido dos Mares Guia, João Batista hoje é consultor na área de educação.

“Pode ter sido uma decisão equivocada, mas era consistente. Foi a primeira vez em que parlamentares petistas foram excluídos em razão do voto no Legislativo. O episódio marcou a hegemonia da burocracia partidária sobre os detentores de mandato eletivo e teve caráter exemplar: se o partido era capaz de expulsar três de seus oito deputados federais, não dava qualquer margem a dubiedades”, comentou Mares Guia.


15 de abril de 2010

Museu Histórico Nacional faz mostra do 100 anos de Tancredo, Aécio Neves e toda a família vão estar presentes ao evento


TODA A FAMÍLIA Neves vai estar no Rio, dia 19, para a inauguração, no Museu Histórico Nacional, da grande mostra comemorativa do Centenário Tancredo Neves. Virão todos mesmo: as filhas do ex-presidente, Inês Maria e Maria do Carmo, o filho, Tancredo Augusto, a neta, Andréa, e inclusive o herdeiro político e neto, Aécio Neves, que na mesma segunda-feira terá compromisso político com José Serra, no Rio, pela manhã…

A INAUGURAÇÃO vai marcar, ainda, o lançamento do portal do centenário e de dois livros sobre Tancredo. Um deles, coordenado pelo jornalista Mauro Santayana, contendo as principais reflexões e discursos do estadista mineiro. O outro livro, coordenado pela neta, Andréa…

ESSE CONJUNTO de ações promete fazer de Tancredo Neves a grande figura política do ano. Só rivalizando, é claro, com os políticos em campanha…


15 de março de 2010

Ronaldo Costa Couto escreve artigo sobre Tancredo:“Estrategista, pensava grande, via longe. Não radicalizava,fugia de decisões emocionais,errava pouco


Tancredo Neves
Mudou o Brasil. Liderou a reconquista pacífica da democracia, morreu por ela. Foi o melhor presidente que o Brasil não teve


1984 , campanha presidencial. Tancredo precisava desvencilhar-se de boataria sobre sua saúde, um veneno para a candidatura. Fazer exames e escancará-los? Nem pensar! Sentia-se bem, mas era cismado com câncer, que já levara dois de seus 11 irmãos. Resposta a jornalistas, em São Paulo: “Estou com uma saúde irritante”.

No final de 1983, despachávamos no Palácio da Liberdade quando chegou a notícia de que Flávio Marcílio, presidente da Câmara dos Deputados, tinha a doença. Lamentou, abateu-se. Ficou de pé, apertou o abdômen com a mão direita, quase um hábito, e disse: “Esse “bichinho” pode estar dentro da gente sem sabermos”. Não estava, saber-se-á depois.

Realizava-se na política. Aos 74 anos, acordava com o sol, ia até tarde da noite. Todos os dias. Era um sufoco acompanhar seu ritmo. Mas delicioso privilégio conviver, trabalhar e aprender com Tancredo. É uma de minhas raras admirações que o tempo não levou.

Estrategista, pensava grande, via longe. Não radicalizava, fugia de decisões emocionais, errava pouco. Sabia antecipar-se, sabia esperar. Confiava, desconfiando. Conhecia os homens, suas manhas e artimanhas.

Dizia-se apenas um servidor público. Íntegro, patriota, culto, bom orador, escrevia bem. Amava o direito, conhecia economia política. Hábil negociador e operador político. Pilha de simpatia, argúcia, astúcia. Do adversário Zezinho Bonifácio: “O Tancredo é um político capaz de tirar as meias sem tirar os sapatos”.

Dominava os principais temas domésticos e internacionais. Lia os grandes jornais brasileiros e o francês “Le Monde”. Gostava de rádio e televisão, inclusive de algumas novelas. Leitor fiel dos clássicos, entusiasta de música clássica.

Não esquecia seu pequeno mundo. Perto da morte, a alma sangrando, o corpo conectado a tubos e equipamentos indispensáveis, várias vezes rasgado, as entranhas feridas e devassadas, lembrou-se de que o padre Lopes, velho amigo, perdera a paróquia num distrito de São João del-Rei.

Chamou o neto Aécio: “Temos de ajudá-lo. Mande ver o que está acontecendo. Quero notícias”. Não fumava, pouco bebia. Bom de garfo, adorava almoçar e jantar sem pressa, uma taça de vinho junto.Nunca o vi gripado. Perguntei qual era o segredo. “Acordo cedo e tomo banho frio, de chuveiro. Aconselho, é só acostumar. Molhe primeiro os pulsos e entre.” Tomava uma aspirina por dia.

Parecia não ter medo. Quase não se estressava, apesar da trabalheira, das pressões de governar, das maratonas de campanha, das manobras golpistas que enfrentou. Deitava e logo dormia.

Como conseguia? “Ah, meu filho, sempre faço a minha parte o melhor que posso. O resto é com Deus e Nele a gente pode confiar.” Divertido, sutilmente irônico, espirituoso. Um deputado autocandidato a secretário de Estado não parava de plantar notas. Tancredo, governador eleito, mudo. Mais notas, mais silêncio. Posse chegando, pede audiência: “Doutor Tancredo, o que que eu faço?Tá todo mundo perguntando se vou ser secretário”. Tancredo: “Diga que eu te convidei e você não aceitou”.

Comigo, no início da campanha presidencial, meio de agosto de 1984: “Agora é construir alianças e conseguir os votos, um olho no PDS e outro no PFA”. “PFA, doutor Tancredo?!” “Sim, Partido das Forças Armadas.”Oito semanas depois da mágica vitória, a hospitalização em Brasília. O desastroso, tumultuado e espetacularizado tratamento, o sofrimento medonho. Trinta e oito dias de martírio do corpo e do espírito. A absurdamente concorrida cirurgia da noite de 14 para 15 de março de 1985, finalizada a menos de nove horas da investidura do vice José Sarney, que presidirá a consolidação da democracia.

A falsa notícia de Diverticulite de Meckel e a previsão de alta e posse para a semana seguinte. A infecção, a dor implacável. A segunda cirurgia e a nova ilusão de melhoria. Até pose para fotos. A brutal hemorragia interna, a transferência às pressas para São Paulo. “Eu não merecia isso”, diz a Aécio.Mais cinco cirurgias, a septicemia e o fim da agonia em 21 de abril de 1985. Sua morte fez o Brasil chorar e pôs nas ruas a maior multidão que São Paulo já havia visto. Espanto no Brasil inteiro, frustração colossal, muitas sombras e suspeitas.

Mudou o Brasil. Liderou a reconquista pacífica da democracia, morreu por ela. Fez e faz muita falta. Sim, Tancredo Neves foi o melhor presidente que o Brasil não teve. Uma de minhas lembranças dessa rasteira da história é um desenho de Millôr Fernandes. O Brasil como enorme floresta e, estendida no chão, uma árvore gigantesca, a mais alta de todas: Tancredo.

RONALDO COSTA COUTO, escritor, doutor em história pela Sorbonne, foi amigo e assessor de Tancredo Neves, ministro do Interior e ministro-chefe da Casa Civil (governo Sarney). É autor, entre outras obras, de “Tancredo Vivo” e “História Indiscreta da Ditadura e da Abertura”.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


14 de março de 2010

Aécio Neves escreve artigo para Estadão sobre Tancredo: “Era um autêntico construtor de pontes. Pontes que aproximavam as pessoas.


Tancredo buscou garantir transição para a democracia

Há 24 anos, ex-presidente iniciava luta pela vida no Hospital de Base de Brasília; no ano de seu centenário, é lembrado como construtor de pontes para aproximar as pessoas


Há exatos 25 anos, em um 14 de março como hoje, iniciava-se, no Hospital de Base de Brasília, o rosário de sacrifícios do ex-presidente Tancredo Neves, que culminaria com a sua morte em 21 de abril.

Foi como se aquela noite se fechasse sobre nós, densa e escura, com seus duros presságios.

Estávamos, todos, preparados para a alegria. Em Brasília, não havia festas somente nas casas confortáveis da beira do Lago e nos apartamentos do Plano Piloto. Em Taguatinga e Ceilândia, nas casas pobres e honradas dos trabalhadores, festejava-se o fim da ditadura, do estado policial e repressor.

Era a última noite sob o regime autoritário. Na recepção oferecida no Itamaraty, personalidades do País se confundiam com delegações de dezenas de países, que traziam os seus cumprimentos ao novo presidente.

Ninguém sabia, mas, naquele momento, o triunfo e a tragédia marcaram encontro na vida do mesmo homem. Da sua eleição, em janeiro, até o momento final, Tancredo se dedicou intensamente à grande tarefa da consolidação da transição. Ao contrário do que se supõe ainda hoje, ela não se concluíra com a vitória das oposições no Colégio Eleitoral do Congresso Nacional.

Desde a memorável campanha das diretas, na qual Tancredo se jogou de corpo e alma, ele carregava consigo, intimamente, a percepção sobre os riscos institucionais daquela hora.

Conhecia os limites da nossa elite política. Sabia que o País não podia perder a oportunidade de vencer o regime autoritário, ainda que fosse pelas suas próprias armas, no caso, o colégio eleitoral.

Vencida a batalha, ele iniciou outra exaustiva jornada para garantir a travessia, que, entendia, só se consumaria de fato, só se tornaria definitiva, com a posse. Só a posse daria ao novo governo os instrumentos políticos e jurídicos necessários para a sua própria consolidação.

Trabalhava dia e noite. Era incansável. Conversava. Ouvia. Tentava identificar resistências à construção do processo de redemocratização e corria a desarmá-las. E elas surgiam de várias formas: de pleitos regionais às pequenas vaidades pessoais não atendidas; de resistências ideológicas, aos grandes interesses organizados contrariados.

Era paciente, mas a complexidade das negociações muitas vezes o exauria, embora mantivesse sempre o bom humor, que cativava tantas pessoas e desarmava os espíritos.

Nesse ínterim, viajou pelo exterior em busca do imprescindível e estratégico apoio internacional das grandes democracias do mundo à incipiente democracia brasileira.

Recebia informações privilegiadas da área militar e sabia dimensionar o tamanho da insatisfação de setores diversos atrelados ao antigo regime, prontos para se reaglutinar a qualquer tempo. Bastaria uma motivação consistente.

Por isso trabalhava, articulava, conversava tanto.

A celebração do centenário de Tancredo e a visita aos valores que o tornaram um dos mais importantes líderes brasileiros da segunda metade do século XX nos trazem de volta reflexões acerca das grandes tarefas que nos foram legadas pelos homens e mulheres que devolveram o País à plena democracia, tantas delas ainda hoje inconclusas.

Uma parece ser mais central e atual que nunca: o desafio da conciliação política, que o acompanhou durante todo o longo percurso que fez pela história.

Como disse recentemente em pronunciamento no Congresso Nacional, conciliar, para ele, era construir caminhos. Sabia, como poucos, separar as circunstâncias do fundamental.

Era um autêntico construtor de pontes. Pontes que aproximavam as pessoas. Pontes que faziam o País ser mais inteiro.

Se tivesse ficado entre nós, acredito que elegeria a austeridade como diretriz central do seu governo, combatendo o descontrole dos gastos, o enriquecimento ilícito e o esbanjamento dos recursos públicos, enfermidades que até hoje mancham a vida pública brasileira.

Teria se contraposto à dramática desproporção entre os gigantescos encargos tributários no Brasil e o seu frágil retorno em serviços públicos de qualidade, que ainda é realidade incontestável no País.

Do ponto de vista histórico, temos um longo caminho a percorrer até que possamos ousar dizer que resgatamos a imensa dívida social que temos para com o nosso povo.

Tem nos faltado, no Brasil de hoje, o desprendimento e a generosidade que nos aglutinaram no passado. Tem nos faltado recuperar o sentido mais amplo da conciliação para que pudéssemos então convergir em torno das grandes causas nacionais.

No esgarçamento tantas vezes inútil da luta política, deixamos de enxergar e compreender que o País é muito maior do que as eventuais diferenças que tantas vezes nos distanciam.

Na história, não há apenas o que perdemos no passado ou nossas esperanças compartilhadas sobre o futuro.

Na história, o tempo é sempre.

E sempre tempo de construir o Brasil que queremos e sonhamos.


* GOVERNADOR DE MINAS GERAIS E NETO DE TANCREDO NEVES




5 de março de 2010

Aécio Neves participa das homenagens pelos 100 anos de nascimento do ex-presidente Tancredo Neves


O governadorAécio Neves participou, nesta quinta-feira (4), em São João del-Rei, no Campo das Vertentes, das homenagens pelos cem anos de nascimento do ex-presidente Tancredo Neves. A programação contou com a reinauguração do MemorialTancredo Neves e com uma visita ao túmulo do ex-presidente, no cemitério da Igreja São Francisco de Assis.

O governador chegou acompanhado da mãe, Inês Maria, da filha Gabriela, da irmã Andrea e fez o trajeto entre a Igreja e o cemitério cercado por amigos e por moradores de São João del-Rei que também foram prestar homenagens a Tancredo. A solenidade contou ainda com a presença de importantes lideranças políticas, entre elas, a do ex-presidente José Sarney, presidente do Senado, que assumiu a Presidência após a morte de Tancredo. A cantora Fafá de Belém cantou o hino nacional aos pés do túmulo de Tancredo.

“Hoje, para mim, de um lado é uma imensa saudade, e de outro é a celebração. Que homem público, depois de vinte e cinco anos, é reverenciado desta forma, por um país inteiro? E, infelizmente, e aí talvez seja a tristeza que eu carrego no meu peito, o Tancredo não está vivo, não viveu para ver a sua obra concluída”, disse o governador, em entrevista.

Aécio Neves destacou que o grande projeto político de Tancredo Neves foi o de construir a democracia brasileira. Ele disse que a morte de Tancredo representou para os brasileiros o fim de um sonho.

“Todos os instantes, em todos, desde os momentos com Getúlio, como ministro da Justiça, depois como primeiro-ministro no parlamentarismo com João Goulart, depois em todo regime autoritário, ele na oposição. Tancredo só queria uma coisa: o restabelecimento das liberdades democráticas desse país. Tancredo, como diria Afonso Arinos, não fez como tantos ilustres brasileiros que deram a vida pelo país, Tancredo deu a sua morte pelo Brasil”, afirmou.

Estadista

Para o governador, Tancredo tratava das grandes questões nacionais sem se esquecer das suas origens, o que fazia dele um grande estadista. “Conheço poucos homens como Tancredo, que construiu sua trajetória tão ligada aos seus valores e sua terra”, disse ele.

Para o presidente do Senado Federal, José Sarney, a lembrança que ele guarda do presidente Tancredo Neves é a de um grande homem. “Tive a honra de conviver com Tancredo, quem eu considero o maior político da história contemporânea desse país. Tancredo foi o fundador da Nova República e foi quem instalou e possibilitou que o país se unisse e as instituições democráticas voltassem com o vigor que até hoje elas possuem”, afirmou.

Os moradores de São João del-Rei também organizaram uma homenagem ao ex-presidente, enfeitando as sacadas e janelas das casas do centro histórico, no caminho entre o Solar dos Neves, onde vivia Tancredo Neves, e a Igreja de São Francisco de Assis, de quem o ex-presidente era devoto. Aos domingos, ele fazia esse trajeto a pé para assistir a missa.

Memorial

Em seguida, o governador participou da reabertura do Memorial Tancredo Neves, que foi inaugurado em 1990. O Memorial reúne, em um casarão do final do século 18, um acervo com documentos e fotos que retratam a trajetória do ex-presidente e de outros protagonistas de um importante período da história política brasileira. Com a remodelação realizada pela Oi Futuro, o museu ganhou mais dinamismo e ferramentas interativas.

Curador do memorial, Marcello Dantas, destacou que o espaço não é para ser um local de nostalgia, mas de sedimentação de um ponto de vista da história política contemporânea do Brasil nas novas gerações. “O que importa é a história que esse espaço carrega. O memorial mostra o papel do presidente Tancredo Neves que foi de pavimentar o caminho para a nova democracia”, disse.

No memorial, o visitante terá acesso a imagens da vida de Tancredo desde quando vivia em São João del-Rei, da sua vida política, de momentos importantes como os comícios pelas Diretas Já em 1984, da sua posse como governador de Minas Gerais em 1983, das viagens para o exterior quando já eleito presidente da República pelo Colégio Eleitoral, além de medalhas, passaportes, carteira de identidade, vídeos e áudios. Também no memorial, foi instalado o gabinete de Tancredo em São João del-Rei com objetos pessoais que ele utilizava no seu dia a dia.

Estiveram presentes na homenagem ao presidente Tancredo Neves, o vice-governador Antonio Anastasia, o senador Eduardo Azeredo, o deputado federal Ciro Gomes (CE), o senador Francisco Dornelles (RJ), o bispo da Diocese de São João del-Rei, Dom Waldemar Chaves de Araújo, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho, o secretário de Estado de Governo, Danilo de Castro, a secretária de Estado de Planejamento e Gestão, Renata Vilhena, o prefeito de São João del-Rei, Nilvaldo Andrade. Estavam ainda presentes personalidades como o cantor Fagner, a cantora Fafá de Belém e a atriz Christiane Torloni.

Outras homenagens

As comemorações em São João del-Rei prosseguem até sábado (6) com a reabertura do Museu de Arte Sacra e da Casa de Bárbara Heliodora. Também acontecerá a estreia do espetáculo “Terra de Livres”, montagem inédita no Brasil, que lança mão da tradição das procissões das cidades históricas mineiras e convida o espectador a percorrer o centro, transformando ruas, casas e igrejas num grande cenário.

A Academia Brasileira de Letras (ABL), fará sessão solene em homenagem a Tancredo Neves no dia 23 de março. A Fundação Tancredo Neves fará nova edição do livro “Tancredo Neves – Um Homem para o Brasil”, projeto da jornalista Andrea Neves, no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, no dia 10 de abril. Na mesma data e local será aberta a exposição “Tancredo 100 Anos”, que apresenta a trajetória de Tancredo com o mesmo suporte material do Memorial de São João Del Rei.

Também acontecerá o lançamento dos livros “Tancredo Neves, a Política Como Razão” e “Tancredo: O Verbo Republicano”, organizados pelo jornalista Mauro Santayana. O primeiro contém frases do presidente e o segundo seleciona 12 discursos contextualizados historicamente pelo autor. A Fundação Tancredo Neves vai lançar ainda um portal que reúne a história de Tancredo e o cineasta Silvio Tendler, autor dos filmes “Jango” e “Anos JK”, prepara um documentário sobre o presidente.

1 de março de 2010

100 anos de Tancredo: “Ele ensinava que não se pode transigir jamais com os objetivos, apenas com a estratégia”,

Tancredo Neves, o homem que devolveu a democracia ao Brasil, completaria 100 anos nesta semana. Cartas inéditas, trocadas entre ele e o ex-presidente Juscelino Kubitschek durante o regime militar, oferecem uma lição de espírito público cada vez mais rara nos tempos atuais
” MEU CARO PRESIDENTE…”

Montagem sobre fotos de Manoel Novaes/Iconografia

O afeto entre JK (à esq.) e Tancredo cresceu conforme cresciam as adversidades políticas enfrentadas por ambos no decorrer da ditadura: mesmo de longe, viraram amigos
Na noite de 13 de junho de 1964, pouco mais de dois meses após o golpe militar que estabeleceu uma ditadura no Brasil, o ex-presidente Juscelino Kubitschek embarcava solitariamente no Rio de Janeiro rumo ao exílio voluntário na Europa. JK, o festejado presidente bossa-nova, tivera o mandato e os direitos políticos cassados pelos militares. Despedia-se do país sob o rugido aziago das turbinas do avião da Ibéria que o levaria a Madri. No jato, partiam Juscelino e os anos dourados. Em terra, ficavam os militares e os anos de chumbo. Quando Juscelino subiu as escadas do avião, um braço o alcançou. Era Tancredo de Almeida Neves, que completaria 100 anos nesta semana, em 4 de março. Aos 54 anos, Tancredo era deputado, crítico do regime, mas ainda não tinha o tamanho de Juscelino. Deixaram-no ficar. Juscelino, porém, projetava uma sombra democrática por demais incômoda aos militares. “Meu caro Tancredo”, escreveu Juscelino de Paris, dois meses depois do embarque, numa das primeiras cartas de uma correspondência que se avolumaria no decorrer daqueles tempos lúgubres, “lembro-me bem de que a sua foi a última mão que apertei antes de me dirigir ao avião. Naquele instante de brutalidade, a sua presença me confortou.”
Foi em meio à brutalidade do regime militar que a amizade entre ambos amadureceu, transcendendo as conveniências da política – e amadureceu por meio das epístolas que ambos trocavam. VEJA teve acesso a um conjunto de dez cartas inéditas, escritas por eles durante o regime militar. Começam em julho de 1964, quando Tancredo descreve os movimentos do regime para destruir a reputação de JK, e terminam em julho de 1975, quando o ex-presidente agradece por mais uma leva de discursos remetidos pelo amigo. A correspondência percorre um arco de onze anos, nos quais Tancredo esteve no Congresso, enfrentando a ditadura por dentro. Ele tentava dissolver na legalidade um regime que operava fora dela. Por fora também agia JK, que, amaldiçoado pelos militares, amargava um limbo público, exilado ora no exterior, ora no Brasil. No plano político, as missivas expõem a convergência de afinidades entre dois grandes estadistas. Desde a despedida no aeroporto do Rio, Tancredo trabalhou para retomar a democracia no país. Foi deputado, senador e governador. Eleito presidente por um colégio eleitoral em 1985, adoeceu um dia antes de tomar posse, morrendo pouco mais de um mês depois – mas sua obra já estava terminada: o poder foi entregue aos civis.
CONGRESSO NO PAU DE ARARALogo depois do golpe, em abril de 1964, os militares enquadram o Parlamento: nos anos de chumbo, Tancredo se transformou no mais astuto articulador político em favor da democraci24 de julho de 1964, quase quatro meses após o golpe militar, Tancredo enviou uma emocionada carta a JK. Escreveu o então deputado: “Sinto que se aproxima do fim o eclipse que nos envergonha diante das nações civilizadas e que já está à vista o dia em que iremos restaurar o clima de dignidade democrática por que anseiam todos os brasileiros, com a revisão das brutais iniquidades que maculam nossa história política”. Tancredo sabia que o regime não agonizava. Queria confortar o amigo. A morte da ditadura só viria vinte anos depois, com a eleição dele à Presidência.Nas cartas trocadas entre os dois, há ideias, há projetos políticos, há a genuína preocupação com os atalhos autoritários tomados pelos militares. Há, sobretudo, a obsessão em restaurar a democracia no país. São linhas escritas com sinceridade por homens que compreendiam as exigências daquela tormentosa circunstância histórica – e, mais do que isso, sabiam quais sacrifícios eram necessários para superá-la. JK e Tancredo usam expressões como “dignidade democrática”, “objetivo maior” e “bravura moral”. Não há nenhuma menção a cargos, emendas, empregos para a família… Nada do que tanto faz salivar a maioria dos políticos do nosso tempo está naquelas linhas, numa mostra constrangedora do declínio ético e intelectual da classe política brasileira. Num ambiente infestado nos últimos anos pelo cinismo dos mensaleiros e pela mendacidade dos deputados propineiros de Brasília, as epístolas servem de guia para outra categoria de políticos – aqueles poucos que reúnem coragem suficiente para caminhar na direção contrária do que exige a cultura partidária do país.
DE PRESIDENTE A PÁRIA JK desembarca no Brasil ao lado da esposa, dona Sarah, após três anos no exílio: cartas revelam angústia com a radicalização do regime
As catas estavam dispersas pelos arquivos tanto de JK quanto de Tancredo. Algumas foram encontradas por Andrea Neves, a neta mais velha de Tancredo, junto aos pertences pessoais do avô. Outras estavam nos papéis de Juscelino, cuidadosamente preservadas por Maria Estela Kubitschek, filha do ex-presidente, que guardava a correspondência para si até hoje. Ela explica por quê: “Demorei seis anos para conseguir abri-las. São como um pedaço do meu pai, do qual não quero me desfazer”. Andrea Neves, que era afeiçoada ao avô, compilou o material. Diz ela: “Meu avô teve uma importância capital na minha vida. É preciso preservar o legado dele”. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, neto de Tancredo e seu herdeiro político, conta que aprendeu a fazer política com o avô, durante a transição para a democracia: “Ele ensinava que não se pode transigir jamais com os objetivos, apenas com a estratégia”. “Se hoje temos uma experiência democrática, devemos isso historicamente a Juscelino e a Tancredo“, afirma o filósofo Newton Bignotto, da Universidade Federal de Minas Gerais.
A correspondência começa com as palavras de um Tancredo ainda perplexo pelos rumos do país. Escreveu ele: “Na sucessão dos dias, (a nação) mais consciência vai tomando de que, com a ignóbil cassação do seu mandato e a suspensão dos seus direitos políticos, cassados e suspensos ficaram os direitos do povo”. O discreto e parcimonioso Tancredo registra também, numa abundância de adjetivos incomum para a sua personalidade: “Em meio a um panorama desolador e aviltante, estamos colecionando muitas decepções dos que desertam, se acovardam ou se acomodam”. Como que para consolar JK, o deputado afirma que, apesar dos ataques do regime contra o amigo, crescia a gratidão do povo, “cada vez mais viva e profunda”.
MAGO DA CONCILIAÇÃOTancredo, o político que consagrou a vida e a morte à democracia, é eleito presidente em 1985: deveres políticos não impediram lealdade a Juscelino (ao lado)
Generosas palavras, partindo de quem partiam, parecem ter conquistado em definitivo um JK já sensibilizado pelo gesto de Tancredo no Aeroporto do Galeão. A partir daí, as cartas crescem em cumplicidade e afeto. De “meu caro”, Juscelino passa a qualificar Tancredo de “querido”, que por sua vez se despede do ex-presidente com o carinhoso “sempre seu”. Nos anos subsequentes, enquanto se exilava no exterior, JK sempre encontrava tempo para escrever a Tancredo. Numa correspondência, redigida em Nova York no dia 2 de maio de 1966, JK mostra-se melancólico, “tentando escrever alguma coisa num triste domingo”. Até que, relata, deparou com uma entrevista do amigo: “A tarde estava chuvosa, e eu senti que um raio de sol a atravessava, ao ler a página que poucos homens teriam a coragem de escrever, nessa hora que pesa como uma campânula de chumbo sobre o nosso pobre país”.
Os dois entendiam de sacrifícios pessoais. Numa carta de dezembro de 1966, JK explica a Tancredo por que iria aliar-se a Carlos Lacerda, seu “mais terrível adversário”. Escreveu o ex-presidente: “Era o único serviço que eu podia prestar ao meu país, mostrando a todos os brasileiros que é possível superar divergências profundas quando se tem em vista um bem maior”. A aliança deu errado, mas o sacrifício mostrou até que ponto ambos estavam dispostos a ir para expulsar os militares do poder. Quando essa possibilidade parecia mais remota, no Natal de 1971, JK antevia que, se houvesse democracia novamente no país, ela passaria por Tancredo: “Nada que venha de você pode me surpreender. A trajetória que o caro amigo está deixando na vida brasileira, tão pobre de homens com a grandeza do seu caráter, é marcada por um rastro de bravura moral”.
Antes do golpe, Tancredo e Juscelino mantinham uma relação de cordialidade política, embora cultivassem várias divergências. Apesar de ser um homem de diálogo e conciliação, Tancredo era contra qualquer acordo com os militares golpistas. Juscelino, cujo governo sobrevivera graças ao apoio de setores das Forças Armadas, acreditava ser possível um governo de coalizão quando surgiram os primeiros sinais de ruptura institucional. A cassação de Juscelino e tudo que veio a acontecer depois mostraram que Tancredo estava certo. Lidas agora, palavras tão fortes podem aproximar-se do melodramático, do cabotino. A emoção que transborda das cartas, contudo, resulta dos esforços que lhes eram exigidos: para JK, deixar o país, a família, sua obra; para Tancredo, estar sob a mira constante de um regime que pouco hesitava em torturar. JK morreu em 1976, ainda perseguido e humilhado, e não teve a chance de assistir ao fim da ditadura. Tancredo sacrificou seus últimos dias de vida para assegurar que morresse junto com a ditadura, recusando-se a receber atendimento médico quando já estava muito doente por temer que os militares não entregassem o poder a seu vice, José Sarney. Não deu apenas sua vida à democracia: deu sua morte também.


Fonte: Diego Escosteguy – Revista Veja