Fonte:
Folha de S. Paulo
Aécio promete manter programas sociais e rever Mais Médicos
* TUCANO QUER REDISCUTIR ACORDO QUE TROUXE MÉDICOS CUBANOS
* BOLSA FAMÍLIA PODERIA DAR EXTRA A ALUNO COM BOM DESEMPENHO
* CANDIDATO ADMITE REVISAR REGRAS DE PENSÕES POR MORTE
O
candidato do PSDB à Presidência,
Aécio Neves, afirmou nessa quarta (16) que, se for eleito, irá manter e “aprimorar”
programas sociais que “vêm dando certo”, como o
Bolsa Família. Em relação ao
Mais Médicos, vitrine do
PT
na área da saúde, prometeu rever normas para igualar os salários dos
profissionais estrangeiros. Para isso, precisaria romper e renegociar as
regras atuais, já que os profissionais de Cuba, que são maioria,
recebem apenas parte do valor pago pelo governo –o Estado cubano fica
com o restante.Em sabatina realizada pela
Folha,
UOL,
SBT e
rádio Jovem Pan,
Aécio admitiu ainda rediscutir o modelo adotado para explorar o
petróleo do
pré-sal.
Leia a seguir os principais trechos da sabatina:
Bolsa Família
Num antídoto ao que chamou de “
terrorismo”
eleitoral praticado pelo
PT, o candidato dos tucanos à Presidência declarou que “os
programas sociais que vem dando certo não só serão mantidos como também aprimorados”, caso seja eleito.
Para reforçar seu discurso, falou especificamente sobre o
Bolsa Família,
que classificou como alvo preferencial de questionamentos por parte de
seus adversários. Durante a sabatina, anunciou duas propostas inéditas
sobre o que considera melhorias para o programa.
“Acho que uma família beneficiada pelo
Bolsa Família
que o pai volta a estudar, tem que receber um plus. Um aluno de uma
família beneficiária que tem uma média [escolar], digamos, acima de
sete, tem que receber um plus. Nós temos que induzir as pessoas a se
qualificar”, afirmou.
Aécio disse ainda que o
PT
coloca em xeque a continuidade do programa em períodos eleitorais para
gerar “aflição” em seus beneficiários, cerca de 14 milhões de famílias.
Ele ressaltou ter proposto, como senador, que o benefício fosse
incluído na LOAS (Lei orgânica de Assistência Social), o que, para o mineiro, o elevaria à categoria de programa de Estado (1) e não “de um governo”, e que o PT foi contra.
Mais Médicos
Nas diretrizes de seu programa de governo, o tucano diz que manterá o Mais Médicos, mas que
submeterá os profissionais ao Revalida,
(2) exame
aplicado a estrangeiros que querem exercer medicina no Brasil mas que
foi retirado da agenda de exigências dos que chegaram ao país por meio
do programa. Ele diz ainda que irá acabar com a diferenciação salarial
que existe entre os profissionais arregimentados para atuar no Brasil.
Na prática, a proposta acaba com o acordo que vigora entre o governo brasileiro e o
governo cubano, responsável pelo envio de quase 80% dos mais de 14 mil
profissionais de saúde que agora estão no país. Hoje, os
médicos cubanos recebem apenas uma parte da remuneração e o restante é pago ao governo de Cuba.
Aécio disse que o Brasil “não deve se submeter” às regras de Cuba e
negou que a medida prejudique o programa. Sem os cubanos seria
impossível manter o Mais Médicos na escala e alcance que ele tem hoje. O
tucano afirmou que irá “renegociar” os termos do acerto entre Brasil e
Cuba. “No nosso governo, o Brasil vai criar condições, cursos para
qualificação desses médicos, e eles se submeterão ao Revalida”, iniciou.
“Nós é que temos que concordar com o governo cubano?
Na verdade [hoje] o governo brasileiro financia o governo cubano com parte da remuneração dos médicos. (3) Nós
vamos financiar os médicos cubanos”, encerrou, após dizer que o
programa, “mesmo importante”, não é “a panaceia” para a saúde no Brasil.
Petróleo
Em meio a uma série de críticas ao que classificou como uma gestão “equivocada” da
Petrobras, o presidenciável admitiu que, eleito, irá rediscutir o modelo adotado pelo
governo petista para explorar campos de
petróleo do
pré-sal. A norma vigente prevê o sistema de partilha.
Criado pelo
PT, ele dá à
Petrobras e ao governo maior controle sobre os investimentos no
pré-sal e inibe a entrada de grupos privados e estrangeiros. O modelo de
concessões, criado pelos tucanos, e mantido pelos petistas para campos de
petróleo mais antigos, força a
Petrobras a competir com as multinacionais do setor nos
leilões organizados pelo governo.
Segundo
Aécio, as concessões “foram benéficas para o
Brasil”, enquanto o modelo de partilha deixou o país fora do mercado
mundial por cinco anos, “período em US$ 300 bilhões foram investidos”.
“Nas concessões nós trouxemos parceiros privados de várias partes do
mundo, foi quando tivemos os melhores e maiores investimentos.”
O tucano aproveitou o assunto para explorar escândalos de
corrupção recentes na Petrobras e acusar indiretamente a
presidente Dilma Rousseff de segurar o preço da gasolina para evitar uma escalada inflacionária, “garroteando” os cofres da estatal.
“Os equívocos em relação à
Petrobras foram muitos (…). E taí. Hoje, a empresa frequenta mais as páginas policiais com Pasadena, com a
refinaria Abreu e Lima
do que as páginas de economia. Ele disse, porém, não ter o “conjunto
completo de informações” necessário para decidir se é conveniente
liberar os preços praticados pela
Petrobras, que diz estarem represados.
Medidas impopulares
Numa tentativa de justificar a declaração de que não temeria adotar
“medidas impopulares” que fossem necessárias ao governo –tema que tem
sido explorado pelo PT–
Aécio acusou quem vincula uma
política austera controle da inflação ao aumento do desemprego de fazer o
“discurso do terrorismo”, ainda que a correlação entre os temas seja
quase unânime entre economistas.
“Você só vai combater a inflação gerando desemprego? Isso é uma grande bobagem. Volta nos tempos da
hiperinflação. Nós não tínhamos pleno emprego”, provocou.
Segundo ele, sua eleição acalmaria o mercado financeiro e reduziria a
desconfiança de investidores pela “clareza das propostas” e o “time”
que ele está montando –o ex-presidente do
Banco Central Armínio Fraga é seu principal consultor.
Questionado se não seria ilusório dizer que será possível controlar a
inflação sem gerar desemprego e que o caminho mais ortodoxo sugere ou o
aumento de impostos ou o corte de gastos foi taxativo:
“Ou eu
cresço. E eu opto pelo caminho do crescimento”. O PIB do primeiro
trimestre deste ano cresceu 0,2% em relação ao período anterior.(4)
Previdência
O plano de governo de Aécio também sugere que o déficit
previdenciário, hoje em mais de R$ 40 bilhões, poderia ser minimizado
pelo melhor desempenho da economia.
O tucano acusou os governos da presidente Dilma e de seu antecessor,
Lula, de terem evitado promover reformas nesse campo e disse que uma das
possibilidades que estuda é
rever o pagamento de pensões por morte.(5) “Há
um certo exagero nisso”, afirmou. “Terá que ser discutido com a
sociedade, mas acho que qualquer gestão responsável terá que discutir
não apenas essa reforma mas um conjunto de reformas que foram
sucessivamente adiadas por esse governo”, afirmou.
Ele usou o tema para dizer que
Lula e
Dilma
não tiveram “coragem” de promover mudanças importantes. “Sempre que o
governo [petista] encontrava um contencioso, que contrariava alguns dos
seus núcleos de apoio, as reformas eram arquivadas. Isso ocorreu com a
tributária, com a
previdenciária, com a
política, com a própria reforma do Estado.”
Corrupção
Respondendo a um ataque do também candidato ao Planalto
Eduardo Campos (
PSB-PE),
Aécio disse ser “uma injustiça” comparar o escândalo do
mensalão com as denúncias de que houve compra de votos de parlamentares na aprovação da emenda constitucional da reeleição, no governo
Fernando Henrique Cardoso.
Em defesa inédita,
negou que o caso tenha sido negligenciado pelo
Ministério Público Federal à época –”não houve provas”– e se envolveu
pessoalmente no assunto.(6)
“A minha opinião, a do
Aécio parlamentar [ele estava na Câmara na época], é que não houve compra de votos para a
reeleição. O Brasil queria a reeleição do
presidente FHC e que a maioria do
Congresso pudesse ser reeleita.” E fez uma provocação: “O
PT parece concordar comigo. Ficou 12 anos no governo e não fez nada para reabrir as investigações. Ponto final.”
Ele disse ainda que não há escala para comparação entre os dois casos. “A realidade é que no caso do
mensalão os principais líderes do
PT e do governo hoje cumprem pena porque desviaram recursos públicos em benefício de um projeto de poder.”
Apoio do PTB
Aécio defendeu a aliança com o
PTB, partido que se juntou à sua chapa às vésperas do prazo final de alianças e que, um mês antes, havia jurado apoio à
reeleição de Dilma.
O senador disse que foi infeliz ao usar a expressão “suguem mais um
pouquinho e venham para o nosso lado” para estimular outras defecções na
base governista. “Foi uma ironia. Temos que ter cuidado, eu confesso.”
O mineiro disse não se incomodar com a avaliação de que o
PTB
optou por seu nome por ver nele uma “expectativa de poder”. “Eu
acredito que somos mesmo. É bom isso”, afirmou, para depois emendar que
não houve compromisso de ajuda financeira aos candidatos do
PTB. Em 2010, a direção nacional do
PSDB repassou R$ 1,4 milhão a partidos que apoiaram sua chapa.
Eduardo Campos
Se antes havia uma sinalização clara de ambos os lados de que a disputa entre
Aécio e
Eduardo Campos seria amistosa, agora apenas o tucano ensaia tom ameno com o concorrente, ainda que não o poupe de alfinetadas.
Aécio chamou
Eduardo de amigo e
evitou criticá-lo diretamente, mas ironizou a declaração do rival de que
que sua candidatura representaria a ala “conservadora”.
“Ele pode querer brigar comigo, eu não vou brigar com ele”, disse
Aécio. Em seguida, emendou: “Esses conceitos: conservador, progressista, esquerda, direita… são muito abstratos. Quando eu vejo o
Eduardo considerar o
PSDB conservador e, ao mesmo tempo, apoiar os dois principais governadores da sigla [
Geraldo Alckmin em São Paulo e
Beto Richa no Paraná], eu tenho que compreender que isso é uma coisa boa, ser conservador”, disse aos risos.
Questionado sobre a nova bandeira de
Campos, o
passe livre para estudantes,
disse não achar “justo passe livre para aluno de escola privada que
paga R$ 3.000 de mensalidade”. Segundo ele, o tema é de alçada “dos
municípios”, mas pode ser discutido para beneficiar apenas os
estudantes de escolas públicas e de
baixa renda.