Eleições 2014: Neste rol de coligações, cada legenda está em condição de encabeçar cinco chapas a governador.
Montagem do xadrez eleitoral
Eleições 2014: aliança favorece Campos no Sudeste e Aécio no Nordeste.
Fonte:
Valor Econômico
Campos e Aécio compartilham pelo menos dez palanques estaduais
Alianças entre o PSDB e o PSB podem fazer com que os presidenciáveis
Aécio Neves e
Eduardo Campos dividam cerca de dez palanques estaduais na
eleição ao Palácio do Planalto do ano que vem. Neste rol de
coligações, cada legenda está em condição de encabeçar cinco chapas a governador. Os
tucanos, no entanto, tomam a frente da candidatura em cinco dos seis maiores colégios eleitorais: São Paulo,
Minas Gerais, Paraná, Ceará e Pará. O
PSB tende a liderar a chapa nos menores palanques – Paraíba, Espírito Santo, Amapá e Roraima – à exceção de Pernambuco, o quarto maior neste grupo de Estados onde há alta probabilidade de
coligação entre as duas siglas. Há mais duas grandes possibilidades de
Aécio e
Campos dividirem o mesmo palanque, mas numa chapa com candidato a governador de outro partido: Amazonas, com o PP, e Piauí, com o PMDB.
O cenário reflete a aproximação perigosa entre os dois presidenciáveis, já que ambos podem travar uma disputa acirrada para ver quem chega em segundo lugar, com chance de alcançar um eventual
segundo turno contra Dilma Rousseff.
A grande quantidade de palanques divididos mostra, de um lado, a fraca capacidade de penetração do
PSDB no Norte e Nordeste e, de outro, a fragilidade do
PSB nas região Sul e na Sudeste – que concentra a maior parte do eleitorado. Em apenas duas das dez maiores unidades da Federação, que reúnem 76% do eleitorado, o
PSB já tem garantia de uma candidatura própria consolidada: em Pernambuco, onde
Campos conta com uma ampla hegemonia, e na Bahia.
O objetivo é que no Rio de Janeiro também haja um terceiro nome próprio, mas o vice-presidente regional da sigla, o ex-ministro da Saúde,
José Gomes Temporão, afirma que a situação é “dramática”, depois da debandada do grupo do ex-presidente estadual do partido, o prefeito de Duque de Caxias,
Alexandre Cardoso, que era contra a candidatura de
Campos à Presidência. Cardoso levou sua base para o PMDB para apoiar
Dilma Rousseff, e o
PSB fluminense, agora sob o comando do deputado federal e ex-jogador de futebol
Romário, precisa juntar os cacos. “Nosso plano A é ter candidatura própria. Mas a situação é tão dramática para reconstruir o partido que não chegamos a discutir nomes”, afirma Temporão.
O ex-ministro diz que o cenário inclui como alternativas o apoio às candidaturas do
deputado federal Miro Teixeira (Pros) ou do senador petista
Lindberg Farias. A tendência do
PT nacional, no entanto, é vetar a coligação ou, pelo menos, qualquer possibilidade de
Lindbergh abrir palanque para
Eduardo Campos. O Rio é o terceiro colégio eleitoral do país e onde tanto
PSB quanto
PSDB são fracos. Cada um deverá buscar sua própria saída. Os tucanos, por enquanto, cogitam lançar o técnico de vôlei
Bernardinho.
Nos dois maiores Estados, São Paulo e
Minas Gerais, o
PSDB é hegemônico e a pouca estrutura partidária do
PSB tem levado a legenda a cogitar uma aliança com os tucanos. Pegar carona no palanque de uma sigla adversária na
eleição presidencial é um sinal da fragilidade da campanha de
Eduardo Campos. Mas também pode representar uma oportunidade de roubar uma fatia do eleitorado tucano. Como disse um deputado do
PSDB, em encontro da bancada federal com
Aécio Neves, em outubro, dividir palanques seria “coisa de corno” – ou seja, permitir a traição dos candidatos a governador com o
presidenciável do PSB.
As resistências também vêm dos pessebistas, ou melhor, dos integrantes da
Rede Sustentabilidade, liderados pela ex-senadora
Marina Silva e que se filiaram à legenda em outubro.
Em São Paulo, Paraná e
Minas Gerais, o grupo é contra a ideia de o partido abrir mão de candidatura própria para apoiar, respectivamente, a reeleição dos governadores
Geraldo Alckmin,
Beto Richa e o nome a ser definido para a sucessão de
Antonio Anastasia. Em São Paulo, o Rede propõe as candidaturas dos deputados federais Walter Feldman e Luiza Erundina, mas a tendência, por enquanto, é que o também deputado federal Márcio França seja o vice na chapa de A
lckmin.
“Cada caso é um caso. Acho problemático [a
aliança] em São Paulo, porque o
PSDB carrega um desgaste de estar no poder nesses anos todos. É comparável ao
PT no nível nacional. Em
Minas também acho complicado, porque é a base do
Aécio. No Rio a situação é diferente: ambos os partidos estão afastados do poder. Certamente surgirá um nome nosso, mas também é possível uma aliança [com o
PSDB]. É importante termos mínima chance de sucesso. Já passamos da fase de marcar posição”, afirma o deputado federal Alfredo Sirkis (PSB), ligado à
Marina Silva.
Ou seja, até no Rio de Janeiro poderia haver uma composição. Em
Minas Gerais, o
PSB tem um plano A, com o prefeito de Belo Horizonte,
Márcio Lacerda. No entanto, ele resiste a se candidatar por sua relação próxima a
Aécio Neves. Os planos B e C são o lançamento do recém-filiado presidente do Atlético-MG,
Alexandre Kalil, ou apoio ao
PSDB, opção que segundo o deputado
Beto Albuquerque (PSB-RS), estaria mais distante.
“Nada conspira até o momento a favor dessa união. Se o
Lacerda não aceitar, temos o
Kalil“, afirmou o parlamentar. O também deputado federal
Duarte Nogueira, presidente do
PSDB paulista, por sua vez, discorda. ”As conversas estão adiantadas e o
PSB deve fechar conosco”, afirmou o tucano, que lembrou a amizade entre
Aécio e o prefeito de Belo Horizonte – principal político do
PSB mineiro – como um facilitador da
coligação.
Duarte Nogueira argumentou que a formação de palanques conjuntos com o
PSB não prejudica a campanha de
Aécio. Em sua opinião, o importante é dividir o campo governista. “Com essa estratégia é que vamos levar a disputa ao segundo turno. Onde pudermos somar forças melhor”, disse.
A declaração põe panos quentes nos rumores de um afastamento entre
Campos e
Aécio, depois que a filiação de
Marina Silva deu mais musculatura à candidatura do
PSB.
Marina pode ser a vice do governador de Pernambuco, numa chapa presidencial que começou a preocupar os tucanos pela possibilidade de tirá-los pela primeira vez de um segundo turno.
Além disso, a chegada da ambientalista tende a levar para o
PSB um tradicional aliado do
PSDB: o PPS, cujo tempo de TV é cobiçado por ambas legendas. “É legítima a busca pelo diálogo, pelo apoio de partidos e de setores da economia. O importante é que tudo tem sido feito com transparência e os dois continuam a se falar”, completou.
Sirkis adota o mesmo tom. O deputado reconhece que há um “aspecto de disputa evidente” entre os dois partidos, mas que também existe um “interesse comum” porque não querem favorecer o projeto de poder do
PT.
Sirkis ressaltou o suposto “hegemonismo” petista ao citar a declaração do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, que não semana passada sugeriu que seu partido ficará no
governo federal até 2022, quando será comemorado os 200 anos da Independência do Brasil.
“É preciso levar essa relação da maneira mais amigável possível. Penso que
Aécio e
Eduardo concordam com uma composição, inclusive com o
PT, numa situação pós-eleitoral. A vitória de
Eduardo pode atrair setores do
PT, num terceiro turno, na hora de governar”, disse.
Para Sirkis, isso implicaria um realinhamento histórico, já defendido por
Marina, na campanha de 2010, e pelo qual se isolaria os grotões. “Isso acabaria com um ciclo cuja imagem foi representada por uma frase antológica do [ex-presidente]
Fernando Henrique Cardoso, para quem
PT e
PSDB disputam para ver quem lidera o atraso”, acrescentou o parlamentar, defensor de uma união entre partidos de centro-esquerda e uma “esquerda radical modernizante” contra forças como “PMDB, PP, PTB e grotões”.
Em mais seis Estados,
Campos e
Aécio têm alta probabilidade de compartilhar o mesmo palanque. No Ceará e no Pará, com os tucanos na cabeça de chapa, e Paraíba, Espírito Santo, Amapá e Roraima, com pessebistas à frente da candidatura a governador. No Ceará, o
PSB se desmantelou depois que o grupo do governador
Cid Gomes e de seu irmão,
Ciro, migrou para o Pros por se recusar a apoiar
Campos contra a
presidente Dilma. A única saída à vista é se escorar nos tucanos, que também estão fragilizados, só que num processo mais longo de desidratação. Por isso, o ex-governador
Tasso Jereissati, que já havia anunciado sua aposentadoria, recebe pressões para dar palanque aos presidenciáveis – pelo menos com uma candidatura ao
Senado, cargo para o qual fracassou na tentativa de se reeleger em 2010.
Um exemplo de baixa probabilidade de aliança é a Bahia, onde a senadora
Lídice da Mata (
PSB) será uma terceira via entre o
PT e a oposição local liderada por DEM e PMDB, e apoiada pelos tucanos no Estado.