11 de abril de 2011

Istoé: Aécio Neves é a ‘voz da oposição’ – Depois de Serra sair derrotado das urnas, Aécio se tornou o principal representante do PSDB e da oposição

A voz da oposição

Fonte: Octávio Costa e Sérgio Pardellas
No vácuo deixado pelo raquitismo do DEM e pelo racha entre tucanos, Aécio Neves se impõe como líder do bloco de resistência ao governo
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HOLOFOTES
O senador mineiro chega ao Congresso para fazer seu discurso

Depois do resultado das eleições presidenciais, surgiu um vácuo na oposição brasileira. Com a ausência de lideranças no PSDB e no PPS, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fora do jogo e o DEM em crise e sem rumo desde a saída do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o governo reinou sozinho na cena política. E dominou o Congresso nos primeiros três meses do ano. Esse cenário, no entanto pode mudar. Na quarta-feira 6, emergiu uma voz de oposição, clara e contundente, a mais legítima possível. O fórum não poderia ser mais adequado. Diante de um plenário do Senado lotado por mais de 70 senadores e 150 deputados, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) subiu à tribuna com o desafio de traçar um novo rumo para os partidos de oposição. Gastou exatos 24 minutos para ler seu discurso de nove páginas. Foi elegante, prometeu uma oposição construtiva, mas atacou a omissão do PT nos momentos cruciais para a democracia, como a falta de apoio a seu avô Tancredo Neves e ao Plano Real. “Sempre que precisou escolher entre os interesses do Brasil e a conveniência do partido, o PT escolheu o PT”, afirmou Aécio.Observado atentamente pelo ex-governador de São Paulo, José Serra, e pelo presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, o senador mineiro também criticou o aparelhamento do Estado, a “gastança descontrolada” dos últimos anos que ameaça ressuscitar a inflação e a ingerência estatal na vida de empresas privadas.
Para além da retórica, Aécio fez propostas objetivas. Apontou como principal prioridade o resgate da justiça federativa. Para isso, propôs o fim dos impostos sobre obras de saneamento e a liberação de recursos do Fundo Penitenciário Nacional para Estados e municípios. Ele defendeu ainda a isenção de ICMS nas contas de luz de famílias pobres. Seu discurso foi técnico, objetivo e até certo ponto desapaixonado, mas os senadores governistas acusaram o golpe e acabaram por valorizar a fala do ex-governador de Minas. O primeiro aparte coube à paranaense Gleisi Hoffmann, mulher do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Depois seguiu-se um acalorado debate que se estendeu por mais de cinco horas. Quase todos os petistas defenderam as realizações do governo Lula e atacaram o período de Fernando Henrique Cardoso. Mas fizeram questão de reconhecer que Aécio é um adversário de peso. “Vossa Excelência é o futuro, vai liderar essa oposição… mas por muitos anos”, brincou o senador Lindberg Farias (PT-RJ). “A partir de agora, Aécio se coloca de vez como uma alternativa para disputar a Presidência da República em 2014″, apostou a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS).
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LIDERANÇA
Depois de Serra sair derrotado das urnas, Aécio se tornou o principal representante do PSDB e da oposição

Além de guindar Aécio à condição de principal líder da oposição, o discurso teve o sentido de tirar o PSDB da lona. O partido ainda demonstra abatimento pela terceira derrota seguida nas eleições presidenciais. A necessidade de se impor novamente na cena política nacional foi discutida na reunião dos oito governadores tucanos em Belo Horizonte, na sexta-feira 1º. Durante o encontro, o cientista político Antonio Lavareda exibiu um plano de ação para a legenda. Entre os pontos principais da estratégia apresentada por Lavareda estão a democratização e a oxigenação do partido, a busca de lideranças na sociedade para que se filiem e, posteriormente, concorram nas próximas eleições, o estabelecimento de bandeiras com repercussão entre os movimentos sociais e o aprimoramento da comunicação com diversos segmentos civis. “Não podemos disputar a eleição presidencial daqui a quatro anos com o partido debilitado como está”, disse o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra.
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A volta do político mineiro aos holofotes teve ainda o propósito de mandar um recado para a ala serrista do PSDB. Afinado com Guerra, Aécio vinha sendo alvo de críticas de aliados de Serra, para quem o mineiro não tinha posições firmes e, por isso, desde que foi eleito, não havia assumido o protagonismo no combate ao governo Dilma. O discurso da quarta-feira 6 derrubou de forma cabal esse argumento. “Faltava uma palavra assim na oposição”, enalteceu Guerra logo depois do pronunciamento de Aécio. Com a ascensão do ex-governador de Minas Gerais, há pouca margem de ação interna para Serra. É consenso, hoje, no PSDB que a “fila andou” para ele. O candidato derrotado na disputa pela Presidência em 2010 pode até ter mais espaço no comando tucano, mas não ganhará a presidência do partido. “O Serra tem hoje 30% do PSDB, se muito”, disse à ISTOÉ um integrante da cúpula do partido. Completamente esvaziado e sem cargo executivo, restará a Serra, participar, ao lado de 14 líderes da legenda, como os ex-senadores Tasso Jereissati e Arthur Virgílio, o próprio Aécio Neves e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do conselho político tucano, cuja criação foi referendada durante a reunião dos governadores. O conselho será uma instância destinada a definir os rumos do PSDB. Rumos que, como mostrou a repercussão do discurso, são inseparáveis do destino de Aécio Neves.
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