17 de outubro de 2011

Aécio Neves : “Respeito toda opinião e aceito muitas das sugestões que recebo. Mas é com as minhas convicções que sigo em frente”, comentou em artigo.

Fonte: Artigo de Aécio Neves – publicado pela Folha de S.Paulo

Escolhas

“Sempre vi com reservas os que, na política, temem o diálogo, confundindo firmeza com agressividade”

Há alguns dias, Marina Silva nos ofereceu texto que estimula a reflexão sobre a dinâmica imprevisível da política do nosso tempo, cheia de transformações e novas escolhas por parte dos cidadãos.

Está clara a busca coletiva por uma nova ordem que permita a superação de modelos que sobreviveram até aqui, entre eles os de políticos que se moldam, por conveniência, ao gosto do eleitorado, ou, mais pretensiosos, que tentam moldar o eleitorado à sua feição.

Para além da seara dos oportunistas e dos autocratas, há os que, como a ex-senadora acreana, enxergam pessoas onde outros só veem eleitores e buscam manter com elas relação leal, sem perder de vista seus próprios princípios.

O grande desafio da vida pública é este: não se deixar transformar num personagem condenado a seduzir a plateia. Não se deixar transformar numa caricatura de si mesmo.

Quando insisto em não me tornar prisioneiro das expectativas alheias, o faço por convicção. Acredito que não há nada mais valioso que um homem público possa oferecer que a transparente lealdade aos seus próprios princípios.

Às vezes, leio: “O Aécio devia fazer isso ou aquilo…”. Ouço, reflito. Respeito toda opinião e aceito muitas das sugestões que recebo. Mas é com as minhas convicções que sigo em frente.

A representação política é uma vitrine. É compreensível que cada um transfira sua esperança para a figura de seu representante, assim como acabe se frustrando quando a mesma não se concretiza.

O desencanto tem semeado, aqui e ali, manifestações espontâneas, que vão das passeatas contra a corrupção até os levantes da Primavera Árabe, passando pelos “indignados” na Espanha e por eventos como o “Ocupe Wall Street” em Nova York.

Dizem que são manifestações sem bandeira. Penso diferente. As bandeiras são muitas e revelam as múltiplas faces do inconformismo. Como se uma bandeira tocasse a outra, uma inesperada energia começa a pulsar.

Novos aprendizados nos esperam. Antigas lições de tolerância talvez possam ser melhor repartidas.

Sempre vi com reservas os que, na política, temem o diálogo, confundindo firmeza com agressividade. E os que se acreditam donos do tempo e das circunstâncias, quando sabemos que somos todos reféns deles. Marina terminou o seu artigo citando Fernando Pessoa. Revisito o mesmo autor, em dois trechos de um poema que fala de escolhas e princípios.

“Claro no pensar, e claro no sentir/ É claro no querer/ Indiferente ao que há em conseguir/ que seja só obter/ Dúplice dono, sem me dividir/ De dever e de ser … Assim vivi, assim morri a vida/ Calmo sob mudos céus/

Fiel à palavra dada e à ideia tida. / Tudo mais é com Deus”.

AÉCIO NEVES escreve às segundas-feiras nesta coluna.

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