9 de fevereiro de 2012

Aécio Neves: “O PT saiu do armário”, disse o senador durante debate com o PT sobre a privatização dos aeroportos


Fonte: Cristiane Agostine, Raquel Ulhôa e João Villaverde – Valor Econômico

Privatização leva a duelo verbal entre tucanos e petistas

Alvo das críticas do PT por promover privatizações em sua gestão (1995-2002), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a presidente Dilma Rousseff desmistificou “o demônio do privatismo” ao conceder à iniciativa privada três dos principais aeroportos do país, Guarulhos, Brasília e Viracopos, por R$ 24,5 bilhões.
FHC reiterou que a privatização não é uma questão ideológica. “É uma questão que depende das circunstâncias”, declarou, em um vídeo divulgado ontem pelo site do tucano, o “Observador Político”.
Fernando Henrique, presidente de honra do PSDB, não citou diretamente as críticas feitas pelo PT à privatização realizada durante seu governo e nas campanhas presidenciais de 2006 e 2010. No entanto, rebateu os ataques que ouviu durante a privatização da Vale. “Não há risco de desnacionalização”, afirmou FHC. “São fantasmas que estão desaparecendo porque o Brasil está mais maduro”, declarou.
O ex-presidente lembrou dos ataques que recebeu. “Quantas críticas eu ouvi porque o BNDES participava das privatizações… Agora continua participando e tem que participar para financiar”, disse. “Outras críticas eram sobre o dinheiro dos fundos de pensão. Mas os fundos de pensão são para isso, são para investir, e agora que a taxa de juros está caindo tem que investir mais. Não tem nada de negativo nisso”, comentou FHC. “Espero que agora os aeroportos comecem a funcionar e que dê tempo até a Copa [de 2014]“, ironizou.
Depois da manifestação de líderes do PSDB nos últimos dias, comparando o leilão dos aeroportos às privatizações conduzidas pelos tucanos nos anos 1990, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, saiu em defesa do governo Dilma Rousseff. “Nosso modelo de concessão é diferente da política de Fernando Henrique Cardoso, que tinha na lei de concessão e privatização a obrigação de usar o recurso para pagar dívida”, afirmou.
“Trata-se de uma diferença fundamental entre a nossa forma [de concessão], que não vai para o superávit primário. É claro que os recursos entrarão no caixa do governo, mas serão direcionados para o fundo do setor, que vai utilizar os recursos [obtidos com o leilão] para investimentos nos aeroportos regionais, de forma a criar uma grande rede de aeroportos regionais”, disse o ministro, em referência ao Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC).
Em resposta às provocações dos tucanos, o ex-ministro da Casa Civil e ex-presidente nacional do PT, José Dirceu defendeu a privatização e disse que o PSDB “está com ciúmes”. Assim como Mantega, Dirceu tentou diferenciar a ação do governo Dilma das privatizações feitas por FHC.
Segundo o ex-ministro, o leilão dos aeroportos de Cumbica, Viracopos e Brasília não significa a “retomada do processo de privatização” do governo tucano. “Com essas concessões, apenas repete-se o bom desempenho dos governos dos presidentes Lula [Luiz Inácio Lula da Silva] e Dilma Rousseff no setor de rodovias – concedidas mediante exigências completamente diferentes das estabelecidas nesta área pelo tucanato”, afirmou Dirceu em artigo publicado nesta quarta-feira no site do petista. “E vêm aí as concessões dos portos e as revisões dos contratos das ferrovias, onde nunca o poder público investiu tanto”, registrou.
Para Dirceu, os tucanos estão “inquietos, desarvorados”. “Tanto alarde feito pelo PSDB comprova apenas uma coisa: os tucanos passaram recibo, estão com ciúmes!”
Entre afagos e alfinetadas, os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Lindbergh Farias (PT-RJ) protagonizaram ontem um debate público que expôs a dificuldade do PT em justificar a concessão dos aeroportos pelo governo Dilma Rousseff – após o partido atacar tão duramente as privatizações da gestão FHC – e a disposição do PSDB em explorar eleitoralmente essa aparente “incoerência”.
Durante a gravação de entrevista dos dois para um programa de televisão, fora do plenário do Senado, Lindbergh equivocou-se e, num “escorregão”, usou a palavra “privatização” no lugar de “concessão”, alimentando as provocações.
“A privatização dos aeroportos foi a privatização mais bem sucedida no Brasil”, disse Lindbergh, ao lado de Aécio. “Olha aí, assumiu. O PT saiu do armário”, comentou o tucano. Constrangido, Lindbergh tentou retomar as rédeas da conversa. “Aécio tem tudo para ser presidente um dia, mas nesse caso, está equivocado”. O mineiro devolveu o elogio, dizendo que Lindbergh seria governador um dia e poderiam até estar juntos. “Se não tivessem amarras, ele teria muito mais prazer em andar comigo do que com muitos aliados dele”.
Brincadeiras à parte, o debate mostrou que o assunto é indigesto aos petistas. Em ano eleitoral, o PT tem que explicar às bases a aparente mudança de comportamento do governo. “Estamos preocupados em organizar nossa tropa lá embaixo. Temos que unificar o discurso e alguns argumentos”, afirmou Lindbergh.
O principal argumento que os petistas têm usado na defesa da concessão dos aeroportos é dizer o modelo é diferente da privatização realizada na gestão FHC, como na Vale e nas empresas de telecomunicações.
Para Aécio, trata-se de questão de semântica. “Há uma aproximação do PT de teses que historicamente combatia e que sempre defendemos. Com uma nova realidade e um viés diferente, claro. Mas é uma aproximação. Acho que o PT vai ter uma dificuldade enorme de ir para a campanha municipal e dizer que se colocará contrariamente a qualquer proposta privatizante.” Aécio admitiu que o PSDB, por sua vez, abdicou durante dez anos de defender seu legado. “E estamos pagando um preço caro.”
São três os argumentos do PT para defender a medida adotada pelo governo. Primeiro, tentar mostrar que a concessão da administração dos serviços de aeroportos por alguns anos é diferente de privatização, onde há venda de bens públicos, de ativos, “entrega de patrimônio, como houve na Vale e nas teles”.
O segundo argumento é que aeroporto não é área estratégica. E o terceiro é o modelo: enquanto FHC privatizou para pagar juros da dívida, Dilma está concedendo para alavancar os investimentos.

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