20 de fevereiro de 2012

Sérgio Guerra, presidente do PSDB, fala em entrevista sobre cenário político para a prefeitura de São Paulo, Aécio e as alianças para 2014


Fonte: Christiane Samarco – O Estado de S.Paulo

‘Serra e a resistência ao projeto de hegemonia do PT’

Entrevista com Sérgio Guerra, presidente do PSDB
‘Serra e a resistência ao projeto de hegemonia do PT’
Presidente nacional do PSDB afirma haver ‘forte convicção’ de que ex-governador entrará na disputa em São Paulo e de que cabe a Alckmin resolver a questão das prévias no partido
O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), acusa o PT de nacionalizar a disputa pela Prefeitura de São Paulo, na tentativa de derrotar os tucanos para levar adiante “o projeto Lula da democracia de partido único”. “O objetivo do Lula é e sempre foi transformar o Partido dos Trabalhadores em um partido único”, afirma, em entrevista ao Estado.
Nesse quadro de luta contra a hegemonia do PT, ele diz que a candidatura do ex-governador José Serra a prefeito de São Paulo, “se confirmada, representa a resistência da democracia ao projeto da hegemonia petista”. E completa: “Hoje há uma forte convicção de que ele poderá vir a ser candidato.”Com a nacionalização da campanha paulista, ele entende que Serra passa a ser, “sem a menor dúvida, também um projeto nacional do PSDB”. Se o ingresso dele na corrida municipal dispensará ou não a realização de prévias para a escolha do candidato, é outra conversa. “Essa questão tem que ser conduzida por quem a conduziu até agora, que é o governador Geraldo Alckmin.” Leia abaixo a entrevista.
O ingresso do ex-presidente Lula na campanha municipal de São Paulo nacionalizou a disputa. Como o PSDB deve reagir?O objetivo do Lula é e sempre foi transformar o Partido dos Trabalhadores em um partido único. Não é questão de maioria, é a busca da hegemonia. O PT nacionalizou a eleição em São Paulo na tentativa de derrotar o PSDB para levar adiante o projeto Lula da democracia de partido único.
Isto exige um novo comportamento da oposição em São Paulo?A candidatura de Fernando Haddad (PT) é, claramente, parte estratégica desse esforço pela hegemonia completa do partido único. A participação do PT no Congresso, sua organização no governo e sua ação nos Estados é sempre nesta direção. Mas isto, de certa forma, cria um ambiente positivo para a oposição, porque muitos já estão vendo, e verão cada vez mais, que não são prioridade ou estão sendo excluídos. Taí a crise na base deste governo que só demite ministros que não são do PT e mantém esse governador de Brasília. Com tanta denúncia levantada, não fosse petista, este governador já teria ido embora há muito tempo.
Nesse quadro de luta contra o PT, a candidatura de Serra a prefeito de São Paulo pode ser útil à oposição?A candidatura Serra, se confirmada, representa a resistência da democracia ao projeto da hegemonia petista. E hoje há uma forte convicção de que ele poderá vir a ser candidato.
Com a eleição municipal de São Paulo nacionalizada, o ex-governador Serra reforça também sua intenção de manter-se como opção nacional do PSDB?Sem a menor dúvida. Pelo peso que tem e pelo que representa dentro e fora do partido, em qualquer lugar e em qualquer papel que desenvolva, Serra será sempre um político nacional. Seja candidato no Brasil, em São Paulo ou no Piauí, ele será sempre uma liderança nacional para os tucanos e para os adversários.
Serra é fundamental para impedir que o ex-presidente Lula consolide o projeto de derrotar o PSDB em São Paulo?O Lula já tentou muitas vezes derrotar o PSDB em São Paulo. Ele próprio já foi candidato algumas vezes e perdeu. Então, o fato de ele estar mais uma vez decidido a nos enfrentar não é novidade. O Serra é, em São Paulo, fora do Estado ou em qualquer outro lugar, um candidato muito forte. Ele tem que ser visto como um candidato sênior, que é o que ele é.
O ingresso dele na disputa dispensa a realização de prévias para escolher o candidato?Essa é uma questão que tem que ser conduzida por quem a conduziu até agora, que é o governador Geraldo Alckmin. Temos confiança em que esse tipo de dificuldade ele vai superar.
O prefeito Gilberto Kassab, do PSD, estava com um pé na candidatura de Fernando Haddad, mas a menção da entrada de Serra na disputa freou esse movimento. Segurar Kassab é fundamental para o projeto da oposição em 2014?Kassab nunca deixou de falar a quem quisesse ouvir que Serra seria seu candidato, qualquer que fosse a eleição que ele quisesse disputar, até para presidente da República. Essa questão não é nova. Em segundo lugar, é evidente que a unidade de forças políticas historicamente ligadas, ou não, é fundamental na eleição de São Paulo, que nunca será uma eleição fácil. Será disputada e a capacidade de mobilização do prefeito é muito importante em uma campanha.
Dirigentes tucanos dizem que é preciso impedir a ida de Kassab para o PT porque seria uma viagem sem volta, que terminaria com o ingresso dele no ministério da presidente Dilma Rousseff. O senhor concorda com essa avaliação?Quem pode concordar ou discordar desta avaliação é o prefeito. O que eu sei é o que ele me disse e tem dito a muitos: que será eleitor e apoiador de José Serra, se ele for candidato a prefeito, governador ou presidente.
No cenário sem Serra é possível trazer Kassab para a candidatura tucana?Sou daqueles que entendem que a realização de prévias não nos remete a um quadro negativo. Ao contrário, fortalece os nomes colocados, que são bons e têm condições de desenvolver uma boa campanha. Com eles o PSDB tem toda a capacidade de fazer um discurso limpo, novo, com muita chance de vitória. Quanto ao prefeito, em uma eleição sem Serra ele deveria se posicionar levando em consideração quem apoia e quem bate no governo dele, e quem pode melhor governar a cidade. Para mim soaria muito estranho o PT, que combateu Kassab a vida inteira, estar junto dele em qualquer eleição. A população não entenderia.
O PSDB enfrenta o racha interno entre serristas e aecistas e a falta de bandeiras para tocar uma campanha eleitoral. Como chega aos palanques municipais?Hoje não existe mais a divisão entre alas. Pode haver dificuldades pessoais entre um e outro tucano, mas isto não é significativo. E, do ponto de vista do enfrentamento do que separa o partido da sociedade, nós também avançamos.
Mas, até agora, o diálogo com os movimentos sociais tem sido quase que uma exclusividade do PT. Como reagir?Isto já era… Hoje nós temos mais de 2 mil sindicalistas filiados ao PSDB, inclusive da CUT. No mês que vem criaremos a Secretaria de Assuntos Trabalhistas e Sindicais do PSDB, que será comandada pelo vice-presidente nacional da Força Sindical, Antonio Ramalho. E teremos também as secretarias que vão cuidar das questões do meio ambiente e dos portadores de necessidades especiais.
A última pesquisa interna mostrou que o PSDB perdeu suas principais bandeiras para o PT, com os medicamentos genéricos e a Lei de Responsabilidade Fiscal, ambos mais creditados a Lula do que a FHC. Essa virada do PT, ao privatizar aeroportos, facilita a recuperação dessas bandeiras por parte do PSDB?Não valorizar o nosso legado foi um grave erro. Estamos pagando um preço alto, mas isto também já mudou. O PSDB se recompôs com o presidente Fernando Henrique, homenageando-o em cadeia nacional, no programa de televisão do partido, e isto significa recuperar o discurso. O PT também nos ajuda nisso, quando privatiza os aeroportos e reconhece que tínhamos razão nas privatizações.
O reconhecimento desse legado terá peso eleitoral forte em 2012 e 2014?Já teve um peso enorme sobre nós mesmos. O PSDB está com a autoestima lá em cima, pelo que fez e pode fazer. A apropriação política desse sentimento se dará nas eleições. O fato de o PT reconhecer e adotar as privatizações prova, em primeiro lugar, que nosso legado é muito bom. Segundo, que o PT não falou a verdade e continua não falando. Diante de fatos mais do que óbvios, os petistas insistem em sutilezas do tipo não privatizamos assim, ou assado.
Falam que não é privatização, é concessão.Isso é falta de coragem pública de reconhecer os fatos na sua intensidade e na sua integridade. O fato relevante é que o PSDB fez as privatizações e botou o Brasil nos trilhos. Trilhos que necessariamente o PT tem que percorrer, sob pena de não caminhar e de os aeroportos não funcionarem.
Nas últimas eleições, o partido fez 780 prefeitos. Qual é a meta para 2012?A meta é eleger mil prefeitos. Mais prefeitos significam mais deputados, mais tempo de televisão, mais participação no Congresso e mais financiamento partidário.
DEM e PPS serão os parceiros preferenciais agora e em 2014?Temos também uma parceria real com o PSB em vários Estados (PR, AL, MG, PE), que apontam para alianças futuras.
A popularidade recorde do governo Dilma preocupa o PSDB?A popularidade deste governo é sutil e débil e será reduzida no tempo. A marca do governo Dilma foram as demissões que fez e a verdadeira marca desse governo é o fato de ele ter demitido aqueles que nomeou.
Este quadro pressupõe um modelo de candidato a presidente?Esse quadro nos obriga a ampliar, a procurar entre os descontentes da base, possíveis aliados nossos depois. Isto é básico. O candidato do PSDB terá que ser amplo. Terá que ter capacidade de somar, para ter votos e para governar.
Por este raciocínio, Aécio Neves leva vantagem, a partir da ampla aliança que ele montou em Minas?Não estamos criando padrões de comparação. Não faz sentido agora. Mas nós começamos a definir o modelo de candidato mais adequado ao momento brasileiro. Isto não envolve Aécio, Serra, nem ninguém. Significa que, para descrever o que deveria (fazer) um candidato da oposição daqui a três anos, nós já temos algumas certezas: uma é que este candidato terá que ser amplo, ter capacidade de atrair e buscar alianças do outro lado.

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