17 de dezembro de 2010

Teotonio Vilela Filho em entrevista ao Valor: ‘Aécio é um grande quadro, tem um papel imenso no partido’


“Não cabe aos governadores do PSDB fazer oposição”

Entrevista: Desafio de reeleito é melhorar indicadores sociais
Em busca de êxito eleitoral em uma região onde a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva beira o consenso, o governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), teve de economizar na exposição de sua preferência por José Serra (PSDB) na recente corrida ao Palácio do Planalto. Téo, como é conhecido o governador, também não contou com o apoio do senador Renan Calheiros (PMDB), cuja força política local o tornou cobiçado nos três principais palanques da eleição alagoana.

Reeleito no segundo turno por diferença de cinco pontos sobre o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), apoiado por Renan, Téo terá mais quatro anos para melhorar os indicadores sociais de Alagoas, os piores do Brasil. Uma das principais tarefas será reforçar a atração de investimentos estruturantes para um Estado ainda muito dependente de verbas federais. Nesse sentido, o governador terá que se entender muito bem com o governo da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), a quem ele descarta fazer oposição.
“Não compete aos governadores esse papel de oposição. Aliás, é incompatível o papel de oposição para quem comanda o Executivo”, disse Téo na quarta-feira, em entrevista ao Valor, concedida logo após o encerramento da primeira reunião entre os governadores tucanos eleitos em 2010.
Valor: O senhor venceu uma eleição muito apertada, contra adversários poderosos. Qual o balanço desse processo e qual será o mote do seu próximo governo?
Teotonio Vilela: O balanço do processo eleitoral é de que a população apoiou a continuidade do projeto do PSDB. Fizemos uma administração transparente, participativa, que dialoga com a sociedade o tempo todo e baseada na ética e na busca do desenvolvimento que possa promover melhorias sociais. Tem sido duro, os indicadores aqui são os piores do Brasil, e nós estamos vencendo essas barreiras. O Estado hoje abriu um leque de parcerias com o governo federal, há uma relação de confiança com os municípios, com as instituições internacionais. Então, Alagoas tem hoje muito mais condições de avançar e os alagoanos perceberam isso na eleição. Isso implica em uma responsabilidade maior ainda em trabalhar e corresponder a essa confiança.
Valor: O que pretende realizar nos próximos quatro anos?
Teotonio: Nossa obsessão é a redução da miséria. Para isso, tenho que mexer em tudo. Tenho que mexer em saúde, em segurança, na geração de empregos, na atração de investimento e empresas. Tudo no entorno da redução da miséria e da melhoria da qualidade de vida. Vou consolidar o trabalho que fiz no primeiro governo e ampliar, para reverter esses indicadores. Quero desenvolver o turismo, a cadeia do plástico e da agropecuária, além de amadurecer projetos na área de educação e segurança pública. É muito trabalho. Mas dá pra fazer mais e melhor do que no primeiro [mandato].
Valor: Durante a campanha eleitoral, não ficou tão evidente a aliança entre o senhor e o candidato do seu partido à Presidência da República. Porque as coisas ocorreram desta forma? Como é a sua relação com José Serra?
Teotonio: Serra é meu parceiro, me conhece. Você diz que não ficou clara a aliança, mas eu dei a ele o melhor resultado no Nordeste. Se eu desse o pior, aí seria complicado.
Valor: O quanto a popularidade do presidente Lula na região dificultou a sua tarefa de pedir votos para Serra?
Teotonio: Demais. Você entra na área do Bolsa Família e só dá Lula. O que eu procurei fazer foi conduzir isso com habilidade para ajudar o Serra sem prejudicar a minha própria eleição. E de alguma forma eu consegui. Dei a melhor votação do Serra, mas infelizmente não deu para ele ganhar. Quando [Geraldo] Alckmin foi candidato a presidente, em 2006, também teve aqui a melhor votação do Nordeste. O Serra ganhou aqui em 2002 nos dois turnos, único Estado onde isso aconteceu.
“Serra é meu parceiro. Diz-se que não ficou clara a aliança, mas eu lhe dei o melhor resultado no Nordeste”
Valor: Quanto o senhor conhece da presidente eleita? Como é a relação com Dilma?

Teotonio: Conheço de quando era ministra da Casa Civil. Ela esteve aqui em Alagoas. Toda vez que o presidente Lula vinha, foram cinco vezes, ela veio junto. Minha relação com o Lula é excelente, muito boa. Com a presidente, menos.
Valor: Como o partido pretende demonstrar maior unidade entre a bancada federal e os governadores no que tange ao exercício de oposição?
Teotonio: Os governadores têm um papel diferenciado dos parlamentares. O parlamentar tem uma atuação eminentemente política, no sentido da pregação das ideias, e dos enfrentamentos com o discurso ao qual eles se contrapõem. Já os governadores foram eleitos para governar, não para parlamentar. Não compete aos governadores esse papel de oposição. Aliás, é incompatível o papel de oposição para quem comanda o Executivo. Ao contrário, o dever constitucional impõe trabalho de sintonia com os outros poderes, na escala municipal e federal e, horizontalmente, com o Judiciário e o Poder Legislativo.
Valor: Mas as bandeiras serão as mesmas?
Teotonio: O entrosamento e a comunicação são essenciais. Isso ficou combinado que nós vamos fazer. Mas cada um cumprindo o seu papel.
Valor: Qual é o tamanho da dependência de Alagoas das verbas federais?
Teotonio: Muito grande. Alagoas não tem poupança, não tem investimento nenhum. O dinheiro que nós temos é para fazer contrapartida das obras tocadas com recursos federais, do BNDES, do Banco Mundial. Alagoas precisa muito do governo para investir. É uma dependência completa. Quanto à nossa arrecadação, cerca de dois terços vêm do ICMS e um terço, do FPE [Fundo de Participação dos Estados].
Valor: A dívida com o governo federal também é alta.
Teotonio: O problema é que pagamos muito. A dívida de Alagoas é impagável, pelo menos para quitá-la por completo. Mas todo mês o governo federal nos tira R$ 35 milhões somente com o serviço da dívida. Isso é um absurdo, mas infelizmente não tem como resolver isso no curto prazo. O Serra tinha uma proposta de, se eleito, mandar para o Congresso Nacional uma emenda determinando que os Estados com IDH mais baixo do Brasil receberiam de volta esse serviço da dívida, e esses recursos seriam investidos em educação, saúde, segurança e infraestrutura. Ele acreditava que, em dez anos, se reverteria esse IDH. Infelizmente não ganhou o Serra.
Valor: Qual o tamanho da dívida hoje?
Teotonio: R$ 7 bilhões.
Valor: Neste cenário de Nordeste em evidência, Pernambuco está trazendo grandes investimentos estruturadores, como refinaria, estaleiro e, mais recentemente, siderúrgica e montadora. No Ceará há projetos para uma siderúrgica e uma refinaria. Também há projetos no Rio Grande do Norte e no Maranhão. Como fica Alagoas?
Teotonio: Está se construindo aqui uma fábrica de PVC da Braskem, investimento próximo de R$ 1 bilhão. Estamos negociando uma planta de beneficiamento de minério no município de Caraíbas, mais R$ 1 bilhão. Temos um estaleiro, de R$ 1,5 bilhão, projeto que muda paradigma do Estado [o estaleiro ainda aguarda licença ambiental para ser anunciado]. E estamos de mangas arregaçadas, antenados, para trazer mais. É uma guerra isso.
Valor: O senhor abriu a reunião dos governadores falando em orgulho tucano. Esse orgulho está ferido? Onde acredita que o partido errou nas eleições?
Teotonio: Não acho que houve erro. O grande problema foi o fato de o presidente Lula estar muito forte.
Valor: Qual será a importância do senador Aécio Neves nessa nova fase do PSDB?
Teotonio: Deixa caminhar mais. Está cedo ainda. O Aécio é um grande quadro, tem um papel imenso no partido. Mas por enquanto o caminho é aproximar os governadores, depois dar um tempero nos deputados e senadores. Precisa começar a funcionar mais no dia a dia da sociedade. Aí naturalmente, quando chegar no momento eleitoral, o partido estará vitaminado, musculoso, para colocar o nome.
Valor: O Serra tem participado dessas discussões sobre o novo PSDB?
Teotonio: Terminou agora a eleição. Nem estive com o Serra pessoalmente, só falei por telefone por duas vezes. Mas ele vai participar também.
Valor: O seu vizinho, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que apoiou publicamente sua candidatura, desponta como uma liderança política da região Nordeste. Apesar de estar alinhado nacionalmente ao PT, ele mantém boas relações com tucanos como Beto Richa, AécioNeves, entre outros. Essa nova fase do PSDB pode representar uma aproximação maior com o PSB?
Teotonio: Eu gosto da ascensão do PSB, sobretudo sob o comando do Eduardo Campos, que é um homem sério, com sensibilidade social, nordestino, conhecedor das necessidades da nossa região, e que tem se revelado um líder de inegáveis méritos. Então, eu gosto que o PSB cresça. Aqui o partido é meu parceiro, está na minha base. Comanda a nossa Secretaria de Ciência e Tecnologia, além de algumas outras funções. Tenho ligação muito forte, pessoal e política, com os membros do PSB. Mas em termos de aliança a nível nacional, prefiro não mexer com isso. Prefiro ficar dentro dos limites de Alagoas.
Valor: Como está a relação com o Renan?
Teotonio: Distante.
Valor: Por quê?
Teotonio: Pergunte a ele. Mas eu acho que é porque ele tentou arranjar um candidato vitorioso.

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