13 de janeiro de 2011

Entrevista com Antonio Anastasia: Governador de Minas critica ”luta intestina” em seu partido e diz que seu Estado sonha ver Aécio na Presidência


Sucessor no governo de Minas e fiel escudeiro do senador eleito Aécio Neves (PSDB), Antonio Anastasia (PSDB) engrossa o coro do aliado pela necessidade de refundação da legenda tucana. Ele critica a “luta intestina” na principal sigla de oposição, argumentando que o PSDB é um partido nacional e “não tem dono”.

Qual a sua posição e expectativa sobre o governo da presidente Dilma Rousseff?
Acredito que ela tem condições de fazer um bom governo. Teremos com ela um relacionamento administrativo sereno, tranquilo, harmonioso, de muito respeito. Tenho certeza de que ela terá o mesmo com seu Estado, que é Minas Gerais. O fato de sermos governadores de oposição – e somos dez – certamente não vai trazer nenhuma diferença nesse relacionamento.

Como viu a decisão do ex-presidente Lula de negar a extradição de Cesare Battisti para a Itália? Sendo uma decisão que tem um cunho jurídico, pode ser revista pelo Supremo Tribunal Federal, que na estrutura dos poderes no Brasil sempre é quem dá a palavra final em caso de conflitos.

Como o sr. vê a concessão de passaportes diplomáticos para parentes de políticos, inclusive filhos do ex-presidente?

Sou legalista por natureza. Acho que devemos observar a legislação, que tem critérios da concessão do passaporte.

No que o seu governo será diferente do governo Aécio?

O objetivo nosso é continuar avançando, com os mesmos princípios, os mesmos valores. Mas sabemos que temos que reinventar sempre, criar novidades sempre, avançar sempre, com o foco maior que é a geração de empregos e grande empenho nosso pela diminuição das desigualdades regionais e da agregação de valor aos produtos mineiros. Para conseguir alcançar nesses três itens sabemos que não é só o governo e não é só um mandato, isso depende de um grande processo.

Como o sr. acha que pode, no governo de Minas, ajudar o projeto político do senador Aécio Neves? É possível imprimir uma marca social à administração tucana?

Nos últimos oito anos conseguimos avanços expressivos. Somos o primeiro no Ideb, do ensino básico, conseguimos redução de indicadores de mortalidade infantil muito bons e em saneamento somos o terceiro do Brasil. Então avançamos bem no sentido amplo de qualidade de vida. Mas em razão da injusta distribuição tributária, os Estados não têm recursos suficientes para universalizar grandes programas.Talvez falte aos nossos governos do PSDB – sei em São Paulo que o governador Alckmin e o governador Serra fizeram grandes projetos sociais – alardear um pouco mais isso em vez de ficar só na questão da gestão.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sempre falou em fila no PSDB para justificar a defesa pela candidatura presidencial de José Serra. Por essa lógica, em 2014 chegou a vez do Aécio?

Todos nós mineiros temos essa natural ansiedade, anseio e vontade. Isso ninguém esconde, de ver um mineiro, Aécio, pelas suas qualidades, pelo carisma e até pela grande dedicação e devoção que os mineiros têm com ele, presidente da República. Acho que será um excepcional presidente. Agora, lamentavelmente, não sou eu que escolho quem é candidato. São as várias circunstâncias que ainda vão demorar a chegar. De fato, o PSDB é um partido importante, que perdeu as últimas três eleições presidenciais e, ainda que tenha uma bancada importante, que tenha oito governadores, acho que o senador Aécio tem todas as condições se as circunstâncias permitirem.

O atual ministro Gilberto Carvalho provocou a oposição ao afirmar que em caso de dificuldades da gestão Dilma o governo tem um “Pelé na reserva” – numa referência ao ex-presidente. Como fica o projeto de poder do PSDB com essa sombra do mito Lula?

A gente não sabe o que vai acontecer daqui a quatro anos, quem serão os candidatos. Nós aqui em Minasgostaríamos que o candidato fosse o Aécio e ele sendo o candidato, ninguém escolhe adversário. A pessoa tem de estar preparada para a disputa e querer ganhar e lutar muito por isso.

O sr. concorda que o PSDB precisa de uma refundação?

Foi um termo polêmico, não é? É uma questão semântica, as pessoas ficam se prendendo a palavras, o que é uma bobagem. Acho que todo o partido, sem exceção, precisa de um permanente processo de oxigenação, de reinvenção e de rediscussão. O PSDB é um partido já de mais de 20 anos. Três derrotas presidenciais, ele tem de debater. Por que é que perdeu? Não é nenhum demérito. Acho que a ideia da refundação, que o senador Aécio levantou e é correta, está dentro desse debate permanente interno. O que nós temos de fazer? Onde vamos melhorar? Isso é que é necessário.
O sr. defende algum nome para a presidência do partido? Faz restrição ao ex-governador José Serra?

Acho que ainda não chegou a hora disso, até porque vai demorar alguns meses e naturalmente as especulações agora estão mais centradas nas mesas em Brasília. A presença do senador Aécio em Brasília, no caso do nosso grupo político, vai favorecer muito. Ele é o líder do nosso grupo político, grande em Minas Gerais e com muitos outros parlamentares e políticos de outros estados também.

A rivalidade entre tucanos de São Paulo e Minas pode ser superada?

O PSDB é um partido nacional, não tem dono, não é de A, de B, de C ou de D. É um partido com milhares de filiados e com milhões de eleitores. E o partido tem de ser nacional. Não é Minas, não é São Paulo, não é o Rio Grande, Ceará ou Goiás. Apesar de chamar partido, ele tem de ser uma unidade programática, uma unidade de princípios, de ação, de propósitos e de objetivos. Se houver uma luta intestina muito forte, com essas rivalidades que não vão a parte alguma, claro que vai isso gerar problema. Mas há uma tendência agora de uma unidade muito forte, exatamente desse movimento de recriação e de fortalecimento do partido para nós reconquistarmos a Presidência. Não uma conquista em si do poder pelo poder, mas para implementar as ideias e os programas do PSDB.


Fonte: O Estado de S.Paulo

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