Aécio: no tabuleiro de 2014 o controle da inflação e a política monetária que vão servir de parâmetro para avaliar o desempenho do Governo Dilma.
Aécio: 2014
Aécio e os economistas na disputa de 2014
Fonte: Valor Econômico
Os economistas que disputam 2014
Por Maria Cristina Fernandes
Aécio Neves e Eduardo Campos formaram-se em economia na década da hiperinflação.
Aécio entrou para o curso de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio aos 19 anos. Transferiu-o para a PUC de Minas onde se formaria em 1984, aos 24 anos.
Eduardo Campos entrou para o curso de economia da Universidade Federal de Pernambuco em 1982, aos 16 anos e se formaria quatro anos depois.
Onde cortar para a conta fechar vai ficar para 2015
Aécio dividiu-se entre a faculdade e o governo do avô, eleito em Minas em 1982.
No último ano do curso, Campos presidiu o Diretório Acadêmico da Faculdade de Economia. O brasilianista Werner Baer percorria escolas brasileiras e oferecia bolsas de pós-graduação na Universidade de Illinois. Tentado, Eduardo optaria por ficar em Pernambuco para assessorar o avô.
Tivesse aceito, seria colega de outro economista brasileiro formado naquela atribulada década de 1980, Alexandre Tombini. Depois de concluir economia na Universidade de Brasília em 1984, Tombini foi levado por Baer no ano seguinte para Illinois de onde sairia PhD.
Quando os três economistas da mesma geração deixavam a universidade, Dilma Rousseff, outra economista, assumia a Secretaria de Finanças da Prefeitura de Porto Alegre.
Daquela atribulada década de 1980 até hoje, dois momentos passaram à história como aqueles em que o adiamento de medidas econômicas pelo calendário eleitoral mais impacto tiveram sobre a política e a economia.
Os três economistas que devem se encontrar em 2014 assistiram àqueles momentos em postos distintos.
A história é conhecida. Em 1986 José Sarney via o Plano Cruzado vazar por todos os lados com o fracasso do congelamento. Seis dias depois da eleição que deu ao PMDB de Sarney 22 dos 23 governos estaduais e mais da metade das cadeiras da Câmara dos Deputados, veio o Plano Cruzado II, que liberou a inflação represada e afundou os anos finais do sarneísmo.
Aécio foi um dos 260 deputados eleitos na esteira do Plano Cruzado. No meio do mandato constituinte entraria como fundador no partido que até hoje tem no combate à inflação seu mais importante ativo eleitoral.
A mesma eleição levaria Miguel Arraes de volta ao governo do Estado e, com ele, o neto se tornaria chefe de gabinete. A crise aberta com o fracasso do Plano Cruzado faria sangrar o PMDB. Arraes deixaria o partido em direção ao PSB levando o neto.
O fracasso do Plano Cruzado II também precipitaria a candidatura de Leonel Brizola à Presidência na qual Dilma se engajaria, aproximando-se dos petistas gaúchos no segundo turno com o apoio a Luiz Inácio Lula da Silva.
Doze anos e muitos planos depois o Brasil mais uma vez via coincidirem calendário eleitoral e a premência de medidas econômicas impopulares.
Fernando Henrique Cardoso disputou a reeleição em 1998 com sinais evidentes de deterioração do Real. Seus efeitos só chegariam à população dois meses depois da reeleição quando o governo se decidiu pela desvalorização da moeda.
Naquele ano Aécio seria reeleito à Câmara dos Deputados com a maior votação nominal do país e, neste mandato, chegaria à Presidência da Casa.
Em 1998, depois de passar quatro anos em oposição a FHC e enfrentar o desgaste da operação capitaneada pelo neto na emissão de precatórios judiciais, Arraes perderia a reeleição.
Naquela eleição o PT conquistaria o governo gaúcho e convidaria a então doutoranda em economia na Unicamp, Dilma Rousseff, para a secretaria de Minas e Energia, cargo que exercia ao conhecer Lula.
Um economista que gere uma das maiores carteiras de investimento do país e não frequenta a Casa das Garças diz que desde a chegada do PT ao poder este é o momento que mais se assemelha àqueles vividos em 1986 e 1998.
Não vê como o que chama de desalinhamento de juros, câmbio e salários possa chegar até o fim deste governo sem cobrar um preço exageradamente alto em 2015.
Desta vez, a encruzilhada de calendário eleitoral e política monetária atingem mais definitivamente Aécio e Campos. Os dois contendores de Dilma distinguiram-se em suas reações ao Copom.
Talvez protegido pelo colchão de segurança de seu partido no mercado, Aécio classificou de ‘lamentável’ os 0,25% do Copom, associando a alta à falta de compromisso da presidente com os pilares da economia estabelecidos no governo tucano.
Um economista foi contratado para encontrar-se semanalmente com Aécio. Ainda não se conhecem suas ideias de política econômica mas sabe-se que, no governo, o senador mineiro seria mais próximo dos pais do Real do que o candidato tucano que o antecedeu, José Serra.
Campos não goza das mesmas referências de seu provável adversário de 2014. Os encontros já havidos entre o governador e economistas da Casa das Garças foram negados por estes últimos. Talvez por isso precise ser mais claro sobre o que pensa.
Depois de tergiversar nos últimos tempos sobre o tema, o governador deu uma sinalização que não o distancia da atual condução ao dizer que um aumento na taxa básica de juros não seria um desastre.
“A política monetária tem que funcionar na direção de preservar uma conquista brasileira, que foi a contenção da inflação”. A frase é de Campos, mas poderia ser de Dilma.
Se a política monetária for capaz de segurar a inflação, a presidente ganha tempo para não colocar a questão fiscal em jogo. Daqui até a eleição de 2014 a curiosidade dos investidores em saber onde e como os gastos públicos serão cortados aumentará tanto quanto a disposição dos postulantes em não se pronunciar sobre o tema.
Se o Copom continuar nessa toada os extraordinários 96,5% de reajustes salariais acima da inflação em 2012 (Dieese) podem não se repetir este ano. Mais difícil é conter a pressão de gastos públicos atrelados ao salário mínimo.
O contrato social em vigor prevê carga tributária elevada para financiar a expansão do consumo e dos investimentos, mas apenas o primeiro quesito foi alcançado. Não se espere que os candidatos economistas respondam se será possível fazê-lo sem revogar a lei que indexa o salário mínimo.
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