10 de fevereiro de 2011

Aécio diz que PSDB estava certo quando dizia que era necessário promover um forte ajuste fiscal. Lula fez farra com dinheiro público e União faz corte


Congelamento de emendas cria indisposição entre parlamentares

Fonte: Maeli Prado e Pedro Venceslau - Brasil Econômico
Corte do Orçamento esquenta debate entre governo e Congresso, já acirrado em função da discussão sobre aumento do salário mínimo

No momento em que a presidente Dilma Rousseff trava um debate delicado com a Câmara e o Senado em torno do valor do salário mínimo, a decisão de congelar emendas de parlamentares previstas no Orçamento pode criar uma nova frente de crise entre o governo e o Congresso. Isso porque as emendas parlamentares são a espinha dorsal que sustenta a base eleitoral dos deputados e senadores. É por meio delas que os congressistas, em parceria com os prefeitos, mantêm sua visibilidade nas bases. O corte anunciado ontem, portanto, prejudica diretamente deputados e senadores, sejam eles da oposição ou da situação.
Para o cientista político Rudá Ricci, Dilma partiu para uma estratégia arriscada ao concentrar os dois debates (salário mínimo e Orçamento) em um período tão curto de tempo, o que demonstra, na sua avaliação, falta de habilidade política de uma presidente muito técnica. “Ela esticou a corda ao tomar a decisão de cortar as emendas no mesmo momento em que se debate um salário mínimo de R$ 545,00. É uma gestão muito técnica e pouco política”, considera. “Lula teria feito diferente. Ele já teria feito um acordo de bastidor com as centrais sindicais, e não chegaria a essa discussão do Orçamento coma faca no pescoço”.
Ontem, a insatisfação era pública inclusive entre deputados do próprio PT. “Eu desaprovo essa decisão. O destino das verbas das minhas emendas é discutido em um conselho de 1.200 pessoas. Como vou explicar isso na base?”, indignou-se o deputado Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, do Partido dos Trabalhadores de São Paulo, ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT).
A situação, é claro, serviu também de munição para a oposição atacar o governo. “Esses cortes vão afetar obras importantes para o desenvolvimento do Brasil, como as obras de infraestrutura. Cresceremos, com certeza, mas menos do que poderíamos”, disparou o senador Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais, logo após o anúncio dos cortes.
As declarações deram a medida de qual será o discurso da oposição daqui para a frente: o ataque à situação fiscal do país, colocada como uma espécie de “herança maldita” do governo Lula e calcanhar de aquiles da presidente Dilma. “O PSDB estava certo quando dizia que era necessário promover um forte ajuste fiscal. Quem fez essa expansão de gastos foi o próprio governo federal, sobretudo no ano passado”, apontou Aécio.
Esse também foi o tom adotado peloDEM. “Essa é a fatura das eleições que a presidente Dilma Rousseff está pagando agora. Esse é um governo solidário com o governo passado, e a conta está chegando”, afirmou o deputado ACM Neto, líder dos Democratas na Câmara. “Não vimos nenhuma iniciativa da presidente para reduzir cortes com nomeações em cargos de confiança”.
Apesar dos protestos, a avaliação de alguns cientistas políticos é de que a presidente ainda está em uma posição confortável. Isso porque 45% do Congresso foi renovado. Ou seja, muitas das emendas cortadas são de parlamentares que não se reelegeram. “Além disso, ainda resta um volume extremamente significativo de emendas. Existem outras formas de o governo gerenciar essa eventual insatisfação do Congresso, já que há uma série de nomeações que ainda serão feitas”, avalia o consultor Cristiano Noronha, da Arko Advice.

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