O PSDB que olha para a frente
Fonte: Publicado no Blog do NoblatEnquanto uma parte do PSDB vai se afastando cada vez mais do sentimento nacional, outra dá mostras de estar em sintonia com ele. Entre ambas, a distância, inevitavelmente, aumenta.
Por atavismo e espírito de corpo, a parte moderna hesita em romper com a antiga. Talvez não sinta pressa, raciocinando que tem tempo até o momento quando o desfecho do embate interno se tornar inexorável.
É fato que ele não é urgente no horizonte dos dois próximos anos. Para a vida parlamentar de 2011, a convivência entre os grupos já foi acertada, ficando os dois adequadamente representados nos postos relevantes do partido na Câmara e no Senado. Predominou a avaliação de que era inoportuno precipitar o conflito, pois isso tenderia a enfraquecer ainda mais as oposições, já debilitadas pelos golpes recebidos nas urnas.
Para as eleições municipais do ano que vem, a questão de qual segmento tucano conseguirá liderar o partido é secundária. Eleições locais são locais, pouco (ou nada) interessando ao eleitor a filiação de um candidato a determinada corrente partidária. Pensando no conjunto do país, para o PSDB tanto fará se os prefeitos que elegerá virão de seu lado antigo ou moderno. O importante é que sejam muitos, venham de onde vierem.
É para as eleições de 2014 que o partido tem que resolver o que quer ser. As alternativas são claras hoje e dificilmente mudarão até lá. Ou se reapresenta ao eleitorado com as feições que assumiu nas últimas eleições ou se renova. Ou insiste nos nomes que o simbolizam ou mostra ter opções.
Em 2010, o PSDB passou por escolha parecida e preferiu o passado. Movido pela lógica singela de acreditar que bons números de pesquisa bastam, veio de Serra. Deu no que deu.
Uma das consequências dessa decisão foi retardar a construção de uma nova identidade para o partido. Ou seja, na sucessão de Dilma, o PSDB voltará a estar perante um quadro semelhante àquele com que se defrontou ano passado. Em qualquer pesquisa que se fizer, seus nomes conhecidos ficarão melhor que os menos repertoriados. Será que persistirá no erro?
Embora a vasta maioria do partido trema só de ouvir falar em uma nova candidatura presidencial de Serra, caso o embate entre a parte antiga e a nova for sendo adiado indefinidamente, o “pesquisismo” pode voltar a vencer. Na ausência de outros critérios para definir quem será o candidato para enfrentar Dilma (ou, quem sabe, Lula), teremos, de novo, a consulta às pesquisas para ver “quem está na frente”.
O conflito entre antigos e novos tem uma dimensão regional. São Paulo é o epicentro do rosto tradicional do PSDB, quando mais não fosse por todos seus candidatos a presidente serem paulistas (inclusive o carioca Fernando Henrique). Covas, o próprio FHC, Serra e Alckmin deram, para o eleitor comum, um rosto tipicamente estadual ao PSDB (ao contrário do que aconteceu com o PT, pelas características de Lula e suas candidaturas).
Mas nem todos os tucanos paulistas são antigos, nem todo o PSDB está em São Paulo. Existe um PSDB que olha para a frente.
Se o lugar do passado tucano é São Paulo, o lugar de seu futuro é Minas Gerais. Quase todo mundo concorda que Aécio é a cara do PSDB de amanhã.
Aécio expressa a parte contemporânea do PSDB por muitas razões. Ao contrário do que pensam muitos, uma é sua disposição de correr riscos políticos. Se enganam aqueles que dizem que, nesse aspecto, Tancredo era mais ousado.
Colocar todas as fichas na eleição de Antonio Anastasia foi uma decisão de risco. Não por que suas chances fossem pequenas. Ele talvez elegesse seu indicado sem problemas, qualquer que fosse o perfil, tamanha a aprovação de seu governo.
Aécio inovou foi quando ligou seu futuro político ao desempenho de um governador incomum. Anastasia é um funcionário público de carreira e um administrador. Não vem de família rica ou tradicional na política, nunca foi uma celebridade ou teve militância sindical e partidária. Seu trunfo era possuir uma competência técnica reconhecida até por seus adversários. Era diferente de tudo que caracteriza o político brasileiro.
Ao apoiá-lo, Aécio fez duas apostas. Que o eleitor tinha amadurecido e estava pronto para uma candidatura como a dele. Que Anastasia faria um governo comparável ao seu, mesmo sem ter qualquer experiência política no currículo.
Correu o risco e foi premiado. Acertou na primeira e tem tudo para acertar na segunda
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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