Terminar é recomeçar – Elogio a Aécio Ferreira da Cunha
Minas Gerais perdeu um grande político: Aécio Ferreira da Cunha. Conheci o deputado nos anos 50. Era um tempo de renovação depois de 15 anos do Estado Novo (1937-1945). Alto, elegante, leitor dos bons autores. Filho de Tristão da Cunha, também político e deputado, e pai de Aécio Neves da Cunha, por quem torcia e amava tanto.
Jovem, muito jovem, Aécio Cunha sabia interpretar as magnas questões dos novos tempos. Já deputado federal, ocupou os mais diversos cargos e soube cuidar dos assuntos com muita competência e dignidade. Acompanhou com segurança as mudanças ocorridas na política.
O extraordinário avanço da ciência e tecnologia promoveu grandes alterações no sistema político e econômico. Foram tão profundas que já nos anos 80 estávamos vivendo uma nova época. Aécio assimilou as transformações que destruíram as antigas concepções políticas e ideológicas. Tinha confiança e fé em Minas e no Brasil.
Outro seria o nosso país se todo político fosse como ele. Tendo perdido uma eleição quando participou como vice na chapa de Itamar Franco em 1986, voltou para cumprir o restante do último mandato como deputado federal.
O grande exemplo de sua compostura, Aécio deu em 1988, quando foi indicado para membro do Tribunal de Contas da União (TCU), logrando ser aprovado por unanimidade pelo Congresso Nacional. Entretanto, diante de rumores inverídicos, recusou a nomeação já assinada pelo presidente José Sarney.
Coube-me redigir um editorial (“Gesto dignificante”) mostrando como os políticos de verdade não precisam mergulhar nos mensalões para cumprir seu mandato. Aécio Cunha defendia a liberdade de expressão e de imprensa como maiores bens de um sistema político. Em uma entrevista que me concedeu, comentou que uma civilização sobrevive e se expande quando é competente para responder altivamente aos desafios das transformações históricas que defronta. Enfatizava a necessidade de programas estratégicos de governo para superar a desigualdade social existente em nosso país.
Sempre que nos encontrávamos, discutíamos que era preciso promover o retorno a uma vida mais simples e menos sofisticada. Tínhamos vários pontos de vista e manias em comum, um deles o pequeno entusiasmo pelo computador.
Aécio detestava o marketing político que os partidos praticam para fraudar a opinião pública. Pensava em uma reforma de alto a baixo, reduzindo os textos constitucionais para se criar uma verdadeira República federativa. É preciso impedir a invasão do Executivo e do Judiciário na vida política nacional. Não só no Brasil. Os donos do mundo precisam saber que o nosso povo está sob o domínio que elegeu o tédio e a melancolia como pedras preciosas.
Aécio Ferreira da Cunha deu o exemplo como grande político que foi: renovar e recomeçar. Despediu-se da vida terrena e deixou um conselho: terminar é recomeçar. “O fim é lá de onde partimos” (T. S. Elliot).
Fonte: Artigo Dídimo Ferreira – O Tempo
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