Petistas divergem sobre campanha de Dilma em Minas
Na linha de frente da resistência dos aliados da candidata presidencial Dilma Rousseff (PT) contra a ofensiva tucana liderada pelo senador eleito Aécio Neves (PSDB) em Minas Gerais, os prefeitos das grandes cidades do PT e do PSB tentavam chegar a um consenso sobre o que fazer e entender o que ocorreu no primeiro turno quando se reuniram para jantar em uma churrascaria na última quinta-feira, junto com o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, e o coordenador político do governo, ministro Alexandre Padilha.
O único consenso é que o voto evangélico foi crucial para Marina Silva (PV) ter ficado em segundo lugar na região metropolitana de Belo Horizonte no primeiro turno e que as dificuldades de trazer este voto para Dilma são grandes. Há dúvidas sobre a eficácia da comparação entre Lula e Fernando Henrique no horário eleitoral gratuito. “Este tipo de propaganda não atinge as faixas mais jovens do eleitorado. A memória do que foi o governo Fernando Henrique já se perdeu”, comentou a prefeita de Contagem, Marília Campos (PT).
Para Wallace Ventura (PSB), prefeito de Ribeirão das Neves, a cidade mais pobre do entorno de Belo Horizonte, “o que precisamos é que a Dilma coloque um pastor e um padre todo dia, ou quase todo dia, no horário eleitoral. Não basta ela assumir compromissos. É preciso aparecer um avalista”. Mas a hipótese de abrir ainda mais espaço na campanha da candidata ao meio religioso é vista com receio pelo prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB). “Cheguei a ouvir pessoas que sugeriram que a Dilma fique com uma bíblia na mesa, dizendo que vai governar seguindo as escrituras. Este seria um caminho muito perigoso”, comentou.
Todos os prefeitos apoiadores de Dilma nas grandes cidades realizaram reuniões com lideranças evangélicas e com a Igreja Católica logo após o primeiro turno. “A resistência a ela é muito grande. Muito maior do que se pensava”, disse Ventura.
A campanha de Dilma em Minas recebeu tratamento prioritário do comando da campanha da candidata no primeiro turno em função do próprio resultado local. Todos os candidatos majoritários da aliança entre PT e PMDB foram batidos, deixando sem mandato em 2011 o senador Hélio Costa (PMDB-MG), o ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias (PT) e o ex-prefeito de BH Fernando Pimentel (PT).
A aliança entre PT e PMDB em torno de Costa foi imposta pelo Planalto, o que acirrou o clima de divisão interna e de torça de acusações. Uma semana antes da eleição, Patrus já responsabilizava Pimentel por um resultado adverso em Belo Horizonte. Na visão de aliados de Pimentel, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometeu em Minas Gerais o maior erro tático da campanha de Dilma, já que a aliança não funcionou e retirou a possibilidade de um segundo turno para governador em Minas Gerais, o que poderia tolher os movimentos de Aécio Neves. Durante o jantar de quinta-feira, as sequela do primeiro turno permaneciam visíveis. Pemedebistas e petistas aliados de Patrus e de Pimentel sentavam em mesas bem distantes entre si. Já Aécio procura atrair prefeitos que são simultaneamente da sua base de apoio e da base de Dilma para o apoio a José Serra.
O tucano reuniu centenas de prefeitos em um evento com Serra também na quinta-feira e planeja outro encontro na próxima semana de Serra e prefeitos em Montes Claros, cidade do norte do Estado governada pelo PMDB, já dentro da área do Semi-Árido. A ideia de aliados de Dilma, discutida durante a carreata sábado da candidata com o presidente que atravessou toda a região central de Belo Horizonte, é organizar um encontro de Dilma com prefeitos no mesmo dia do ato tucano.
Na carreata de sábado, Dilma e Lula reuniram cerca de quatro mil pessoas no ponto de encerramento, a Praça 7, marco zero da cidade. Também participou do ato o vice-presidente José Alencar (PRB), que não esteve presente na campanha da candidata no primeiro turno em Minas Gerais.
Fonte: César Felício – Valor Econômico
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