A Cidade Administrativa encomendada pelo governador mineiro
a Oscar Niemeyer retoma o projeto urbanístico traçado por
Juscelino Kubitschek para Belo Horizonte
Na década de 40, Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, mudou o eixo de desenvolvimento da capital mineira para o norte. Com o objetivo de ocupar uma área pouco habitada, o futuro presidente da República encomendou ao arquiteto Oscar Niemeyer, ainda um desconhecido, o complexo que embeleza a Lagoa da Pampulha. Niemeyer projetou um cassino (hoje, um museu), um salão de baile, o Iate Clube e a Igreja de São Francisco de Assis, um marco da arquitetura moderna brasileira.
Na década seguinte, Juscelino e Niemeyer repetiriam a parceria na construção de Brasília. Setenta anos depois, o governador Aécio Neves retomou o projeto de JK. Em dezembro, abrirá as portas da Cidade Administrativa Tancredo Neves, no limite norte de Belo Horizonte, perto do Aeroporto de Confins. Também desenhada por Niemeyer, ela abrigará a nova sede do governo mineiro.
Na área de 800 000 metros quadrados, cinco prédios imponentes estão sendo concluídos. Dois deles alocarão 16 000 funcionários públicos que hoje dão expediente em nada menos que 53 endereços. No terceiro haverá um centro de convivência, equipado com restaurantes, lojas e bancos. O quarto edifício é um auditório, cujas linhas lembram as da igreja projetada por Niemeyer para a Pampulha. Com capacidade para 490 pessoas, esse prédio será batizado com o nome de Juscelino Kubitschek, em homenagem ao mais ilustre antecessor de Aécio. Quanto ao quinto edifício, ele é um resumo da obra de Niemeyer. O Palácio Tiradentes, onde o governador despachará com seus assessores mais próximos, tem arcos, pilotis e pavimentos que misturam vidro e concreto armado. Seus quatro andares se mantêm suspensos por uma estrutura de concreto. Totalmente vazado, o térreo será o maior vão livre de concreto do mundo, com 147 metros de comprimento – o dobro do vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Anexo ao palácio, Niemeyer dispôs uma torre encimada por um heliponto, que dará acesso ao gabinete do governador. Verticais, as edificações ocuparão apenas 10% do terreno da área da Cidade Administrativa.
O restante foi reservado a um estacionamento para 5 000 veículos e um gramado, no meio do qual se destacarão dois lagos artificiais e dezenas de palmeiras. "Acredito que é uma aula magna de arquitetura e de administração pública, pois, além de concentrar milhares de funcionários em apenas dois prédios, valoriza ao máximo as áreas livres e verdes", disse Niemeyer a VEJA.
A Secretaria de Planejamento de Minas estima que, uma vez pronta, a Cidade Administrativa reduzirá os custos fixos do governo estadual em pelo menos 85 milhões de reais. Desse total, 20 milhões são gastos atualmente com aluguéis de prédios ocupados pela administração pública. A reunião das repartições também propiciará uma economia de 28 milhões de reais com serviços de telefonia e telecomunicações. Outros 37 milhões de reais serão poupados com a gestão compartilhada de serviços como transporte de pessoas e documentos e com as tecnologias embutidas nos novos prédios.
Por exemplo, os 77 elevadores do conjunto serão controlados por uma central automatizada que racionalizará o seu uso de acordo com a demanda. Esse equipamento reduzirá a despesa com energia elétrica. Esquadrias com vidro duplo e persianas embutidas reduzirão os efeitos da insolação e, por consequência, o uso de ar-condicionado. O governo está construindo também estações de energia elétrica e de tratamento de esgoto para servir o local.
Cinco mil operários trabalham em ritmo acelerado há dois anos para finalizar a Cidade Administrativa ainda neste governo. Ao fim, ela terá consumido 1,4 bilhão de reais: as obras civis custarão 1,2 bilhão de reais e os móveis e equipamentos outros 200 milhões de reais. Só as 22 000 cadeiras, os 10 000 armários e as 1 000 mesas harmonizados com as linhas de Niemeyer demandarão 80 milhões de reais. Aécio Neves explica que os recursos não saíram dos cofres do Tesouro estadual, mas da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), uma estatal abastecida com royalties das mineradoras e que só pode gastar seus recursos em obras de infraestrutura.
Pelo cronograma oficial, o palácio e o auditório já estarão prontos em dezembro deste ano. Aécio pretende despachar em seu novo gabinete já em janeiro. Os demais prédios poderão ser ocupados a partir de março. Mas a realocação dos funcionários ocorrerá de forma gradual até o fim do próximo ano – antes, portanto, que o novo governador tome posse.
A maioria dos servidores está lotada na região central de Belo Horizonte, nas imediações da Praça da Liberdade, onde está o atual Palácio do Governo. Em torno dele cresceu a cidade, que foi planejada no fim do século XIX para substituir Ouro Preto como a capital de Minas Gerais. Mas, hoje, a zona central sofre com congestionamentos de trânsito, comércio de ambulantes e sujeira.
A Cidade Administrativa permitirá que ela seja recuperada. Quando as repartições públicas saírem de lá, os palácios da Praça da Liberdade serão convertidos em um centro cultural, o que ajudará a restaurar a antiga elegância da vizinhança. Embora distante, essa região central terá uma conexão rápida com a Cidade Administrativa pela Linha Verde, uma via expressa construída por Aécio Neves que interliga o centro ao Aeroporto de Confins.
A expectativa do governador é que os prédios públicos, a avenida e uma área industrial que ele está criando junto ao aeroporto desviem a atenção dos empreendedores privados para o Norte, uma região pobre da capital. Diz Aécio: "A Cidade Administrativa é uma obra que resume o princípio que norteou minha gestão: conferir eficiência e qualidade à administração pública e, ao mesmo tempo, fazer com que ela seja indutora de desenvolvimento econômico e social".
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