O DEM, antes PFL, tem se aliado aos tucanos nas campanhas à Presidência desde 1994, com exceção de 2002, quando o candidato tucano foi, não por acaso, Serra. Cesar Maia afirma, sim, que o seu partido, que hoje é presidido pelo seu filho, o deputado Rodrigo Maia, aceitará qualquer um dos dois pré-candidatos do PSDB. Mas diz que, do ponto de vista da empatia, o governador mineiro, Aécio Neves, seria melhor.
Em entrevista ao iG, Cesar não perde uma oportunidade de espicaçar Serra. “A primeira obrigação de um político é conquistar a paixão de seu círculo mais próximo, para que esse círculo conquiste o segundo e daí por diante. E o Serra não tem tido essa preocupação”, avalia. Os poucos elogios ao governador paulista são irônicos. Diz que ele já “aprendeu a sorrir”. “E o que é o twitter dele? Uma tentativa de humanizá-lo”.
Cesar acha que a campanha já deveria estar na rua. “A gente está criando uma legislação restritiva à política. Não sei por que a Dilma ir a uma inauguração deve ser proibido. Tem de ficar na clandestinidade até começar a campanha? No Brasil introduzimos um sistema que se torna higiênico até o dia 5 de julho e se torna sangrento depois daí. É absurdo.”
O ex-prefeito também acredita que os sindicatos e movimentos sociais criaram tamanha dependência do governo federal que o próximo presidente terá que compor com essas forças para não correr o risco de ser desestabilizado
iG - O governador de São Paulo, José Serra, quer levar para março a definição do candidato tucano à Presidência. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, disse que se o PSDB não se definir até dezembro, ele fica em Minas em campanha para o Senado. O que o senhor acha da indefinição tucana?
Cesar Maia- É estranho o partido não escolher o candidato, mas o candidato escolher a candidatura. Estranho num partido democrático. É uma distorção. O PSDB se diz socialdemocrata, tem a democracia como valor, mas entra num processo de personalismo. O Serra diz que quer ser candidato, que será candidato, que pode ser candidato, e o partido parece não ter nada a ver com isso. É um populismo descarado. Lembra os piores caudilhos. Um caudilho do passado apontava o dedo para o candidato. Agora o próprio candidato aponta o dedo para si. O Serra fala em março e a sensação que dá é que está em dúvida. Se não tivesse dúvida escolheria dezembro. Março é o mês em que ele precisa definir se irá se desincompatibilizar do cargo.
iG - Ele está em dúvida ou é jogo de cena para adiar colocar a cara a tapa na pré-campanha?Cesar Maia - Se estivéssemos falando de junho, julho deste ano, tudo bem. Mas dezembro? Cara a tapa no Natal? No Carnaval? Se o Serra não pode assumir a candidatura, podia colocar alguém para negociar por ele. Nada impede que credencie o Aloysio Nunes Ferreira, o Alberto Goldman (tucanos ligados ao governador paulista). Se chega um cara credenciado, você faz uma reunião e a coisa caminha. Serra não assume nem na frente nem por trás das cortinas.
iG - Não é para prejudicar o Aécio? Afinal, quanto mais tempo passar, pior para o governador mineiro.
Cesar Maia - O Aécio diz isso. Mas na hora em que ele puxou a data para dezembro, dizendo que era a data-limite dele, acabou forçando o Serra para dezembro. Quando o Aécio disser que não é mais candidato à Presidência e disputará o Senado, o candidato inevitavelmente será o Serra, aceitando ou não. O PSDB não tem outro nome.
iG - O Aécio não se coloca em um papel secundário ao anunciar uma possível candidatura ao Senado?
Cesar Maia - Acho que não. Ele acelerou o processo. Deu um xeque de rainha. Na quarta-feira (dia 11), ele reuniu a bancada mineira, incluindo gente do PT, e pelo que fui informado o clima é de alguém que continua testando a hipótese de candidatura presidencial. Ninguém pode imaginar que um candidato de oposição vai largar na frente com 40%. Só se fosse um líder carismático, coisa que o Serra faz questão de não ser. Acho que o Serra pode partir com 30%, e o Aécio pode estar com 18% a 20%. É uma diferença extremamente aceitável. O Serra tem gordura com 40%, 35%. O Aécio, não. Com a capacidade agregadora do Aécio, coloca-se uma dúvida na cabeça daqueles que querem o poder. Os tucanos não estão convencidos de que a hipótese de Aécio vencer é maior do que a de o Serra vencer. No dia em que internamente o PSDB chegar à conclusão, não há dúvida de que se mexerá no quadro.
iG - O DEM aceita chapa pura tucana?
Cesar Maia - Só com o Aécio na chapa. Como cabeça ou como vice. Mas podemos ficar de fora da chapa. O DEM quer poder, quer espaço, quer ministérios, como todo partido deseja. E Serra e Aécio são os dois nomes nacionalmente mais fortes. Eles juntos ficam fortíssimos.
iG- Isso está sendo negociado com o DEM?iG - Com o cenário desenhado hoje, qual a chapa com maior viabilidade eleitoral?
Cesar Maia - É difícil dizer. São muitos fatores envolvidos. O Aécio mobiliza realmente o PMDB? O partido vai rachar mais com o Serra ou com o Aécio? O PMDB se sente parte do governo Lula, como se sentiria em parceria com o governo Aécio, ou se sente “eduardocunhamente” falando (referência ao deputado Eduardo Cunha, do PMDB fluminense), com capacidade para, pela força de negociação, entrar a fórceps no governo Lula? É difícil fazer previsão no momento o que vai acontecer. Por isso, os tucanos têm de resolver o problema deles. Ainda hoje o PSDB acha que as pesquisas antecipam resultado da eleição. Estão nessa linha. Mas se não resolverem logo, vão para uma loteria.
iG - Mas qual a preferência do DEM?
Cesar Maia - Uma pesquisa publicada no O Globo, ouvindo os parlamentares do DEM, mostrou que a maioria prefere o Aécio como candidato, mas acha que o Serra será o candidato. Do ponto de vista da empatia, acho que seria melhor o Aécio candidato. Ele desarruma mais o lado do governo. Tem uma capacidade política maior. Mas essa decisão é um problema do PSDB. Outra coisa: é preciso lembrar que esse país é continental, e o Serra não tem mais 48 anos. O Serra tem uma característica muito distante. Meus contatos com ele são sempre técnicos, temáticos, embora ele tenha aprendido até a sorrir. O que é o twitter dele? Uma tentativa de humanizá-lo.
iG- O senhor fala que os temas de campanha dependem dos candidatos envolvidos. A questão do velho x novo só entra com o Aécio?
Cesar Maia - Quando a Dilma diz “o governo dá de 400 a zero no governo Fernando Henrique”, é porque algum politólogo diz: eles são o velho, o passado. Em 1989, Ulysses Guimarães e Aureliano Chávez tinham 80% do Congresso, 60% do televisão e terminaram deste tamanhinho. O imaginário da população trouxe o novo e o velho. Essa eleição trará mais uma vez? Talvez, sim. E se trouxer o novo e o velho, a Dilma será o novo?
iG- Qual será a agenda da oposição?
Cesar Maia - Não sei. A oposição não tem nem candidato. E a agenda está colada no candidato.
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