Aécio Neves apostará nas urnas de São Paulo e do Nordeste para derrotar Dilma
A derrota retumbante do Brasil frente a Alemanha fez a nação fitar outro espetáculo agendado para este ano: a eleição presidencial.
Com os sonhos do hexa ainda vivos, os presidenciáveis não tinham outra
alternativa a não ser permanecer em seus bancos de reserva em frente aos
televisores. Mas o impensável 7 a 1 mudou tudo. A batalha do Planalto,
também realizada a cada quatro anos, voltou à baila. E a campanha
começou oficialmente, para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nesta semana.
Os oposicionistas enfrentarão então uma disputa de tiro curto para impedir a reeleição da favorita Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT).
Terão 12 semanas para conquistar votos suficientes para que haja um
segundo turno no qual provavelmente apenas um deles enfrentará a
petista.PT
Em tempo: futebol não entra nessa conta, acredita Marcus Pestana, presidente do diretório mineiro do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Para o aliado de primeira hora do candidato Aécio Neves, “não há correlação entre resultado de Copa e eleição.
“Se assim fosse, o PSDB estaria melhor que o PT”, brinca. Isso porque o Brasil ganhou o último Mundial em 2002, quando Fernando Henrique Cardoso tentou eleger seu sucessor, José Serra, sem sucesso. Nesta quinta-feira, Aécio
fustigou: “estive lá, como torcedor, no Mineirão, atônito com aquele
resultado, e nunca misturei as coisas. Mas aqueles que esperavam fazer
da Copa do Mundo, como disse a presidente, uma ‘belezura’ para influenciar nas eleições, vão se frustrar.”
Segundo colocado nas tabelas eleitorais, o senador Aécio Neves
já elaborou a sua estratégia. Centrará forças nas urnas de São Paulo e
do Nordeste. Espera também capitalizar votos com o desejo de mudança de
rumo do país. Segundo pesquisa do Datafolha divulgada
em junho, 74% dos brasileiros desejam que as ações do próximo presidente
sejam, de preferência, diferentes da atual gestão. “Como as
manifestações de junho mostraram, há uma insatisfação popular com as
políticas públicas atuais e a inabilidade administrativa da presidenta
Dilma. Existe uma lacuna no eleitorado a ser preenchida aí”, analisa
Pestana.
Para se credenciar a obter estes votos, hoje em sua maioria com a petista, a campanha tucana aposta em desconstruir a imagem de gerentona que elegeu Dilma
em 2010. Para isto, ilustrarão a sua “falta de gestão” com obras
atrasadas, contratos superfaturados e gargalos em serviços públicos. E,
paralelamente, propagandearão “o choque de gestão de Aécio Neves” no comando do Estado de Minas Gerais entre 2003 e 2010, quando gastos públicos foram reduzidos e investimentos ampliados por meio de parcerias público-privadas. Não será só pelo PIB fraco durante o governo de Rousseff, dizem partidários de Neves, que ele vencerá Dilma. Os tucanos reconhecem que não haverá um tsunami econômico no país este ano.
Para eles, a alta da inflação, a redução no ritmo do
emprego e o fraco crescimento já impactam parte dos brasileiros. Devem,
sim, ter resultado nas urnas, mas não o de criar por si só uma
reviravolta eleitoral. A piora da economia, consideram, está sendo
represada pelo Governo Federal para o ano que vem em nome da reeleição.
A campanha tucana também restringirá as críticas à gestão de Dilma Rousseff e não aos doze anos de PT no poder. Tenta-se, assim, evitar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se torne protagonista do pleito. Mas, sabendo que a recíproca não será verdadeira, já escalaram o senador Aloysio Nunes e outras lideranças da legenda para rebater Lula e defender o legado de seu antecessor Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Não querem repetir os erros das últimas eleições, quando FHC foi escondido pelo partido durante a campanha dos candidatos José Serra e Geraldo Alckmin.
Para os tucanos, a eleição só começará para o grande público com o horário eleitoral
em rádio e televisão no dia 19 de agosto. É por meio dele que a maior
parte da população escolhe em quem irá votar. Mas, acreditam, que com o
início oficial da corrida ao Planalto, no último domingo, eles já terão
mais condições de avançar sobre os votos da petista. Isto porque
Rousseff não pode mais, por lei, inaugurar obras, convocar
pronunciamento em cadeia nacional ou se beneficiar da farta exposição
natural do cargo nos telejornais. As propagandas públicas também estão
suspensas. “Antes os instrumentos estavam na mão dela, mas agora vão
todos estar em igualdade. Tinha comercial de estatal que só faltava
pedir voto”, diz Pestana.
Neves priorizará eventos e aparições em
São Paulo e no Nordeste, localidades consideradas chaves para o tucano
chegar ao segundo turno e derrotar Dilma Rousseff, enquanto não começa a
propaganda eleitoral. Nele, o tucano terá quatro
minutos e meio em cada um dos dois blocos diários em rádio e tevê para
expor seus projetos. “É menos do que o de Dilma, mas o suficiente para fazer um programa com começo, meio e fim”, acredita Pestana.
“Não são dois minutos que é muito para um nanico e pouco para se tornar
conhecido do eleitorado”, diz, referindo-se ao espaço obtido pelo
terceiro colocado nas pesquisas Eduardo Campos, do Partido Socialista Brasileiro.
Governado desde 1995 pelo PSDB, o Estado
de São Paulo é o maior colégio eleitoral do país, com 31,9 milhões de
pessoas aptas a votar, o equivalente a 22,4% do total de eleitores
brasileiros. Para manter viva as suas pretensões de derrotar a atual
mandatária, não basta para o senador tucano vencê-la
nas urnas paulistas, como já fizeram os seus correligionários nas
últimas eleições. Tem de ganhar com uma ampla diferença de votos para
contrapor as derrotas esperadas em redutos petistas.
Crescer nas urnas de São Paulo foi um dos motivos que levou Aécio a conceder ao senador Aloysio Nunes,
do PSDB paulista, a vaga de vice em sua chapa. Assim, pelo menos
temporariamente, apaziguou as disputas internas do partido, que
atormentaram as campanhas da legenda desde que a sigla deixou o Palácio
do Planalto em 2002. Os últimos postulantes tucanos à presidência –
todos paulistas – reclamaram do pouco empenho dos correligionários de Minas Gerais. Portanto, a candidatura do mineiro Aécio Neves desenhava-se como a oportunidade perfeita para uma vingança.
Avançar sobre o Nordeste é outro dos objetivos de Aécio. No segundo turno da última eleição presidencial em 2010, Rousseff derrotou o tucano José Serra em todos os nove estados da região. E de maneira acachapante. Obteve 18,4 milhões de votos contra 7,67 da candidatura do PSDB,
uma diferença de 10,7 milhões. Para se ter uma ideia, a petista venceu a
corrida ao Palácio do Planalto por cerca de 12 milhões de votos.
Mas os tucanos creem que o PT perdeu parte de sua
hegemonia na região nestes últimos quatro anos. Apontam, entre outros
indicadores, as derrotas sofridas pelos partidários de Dilma nas
capitais nordestinas na eleição de 2010. Os petistas deixaram o comando,
por exemplo de Recife e Fortaleza. Já, em Salvador, ACM Neto, crítico
ferrenho da legenda petista que chegou a dizer, em pleno Congresso
Nacional, que daria uma surra em Lula, sagrou-se prefeito.
Nas contas tucanas, Eduardo Campos também
deve afetar o desempenho petista no Nordeste. O socialista deixou, em
abril, o comando do Governo de Pernambuco com forte avaliação positiva.
Com um discurso marcado por críticas à gestão de Dilma Rousseff, ele é visto como um potencial cabo eleitoral dos tucanos na região caso não passe ao segundo turno.
A relação entre os presidenciáveis Aécio Neves e Eduardo Campos,
no entanto, deve se desgastar até o final do primeiro turno. Caso haja
um segundo turno, apenas um dos dois passará. A outra vaga ficaria com a
presidenta num cenário mais provável. Não à toa, o candidato do PSB já
começa a mudar de estilo em relação ao tucano. Se antes o tratava
praticamente como um aliado, agora já dispara contra o candidato do PSDB.
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